25.8.08

SOBRE MINHA MÃE

A murta é uma planta natural em diversos lugares ao longo do Mediterrâneo.

Pode chegar até cinco metros, e se expandir com diversos ramos. Produz um aroma muito agradável, e ainda hoje muitas culturas a usam de modo medicinal; extraem seu óleo.

O Larousse que está ao meu lado, dá a seguinte definição:
"Murta: s.f. (gr. myrton). 1. Arbusto de folhas aromáticas, com ação adstringente e sudorífera, flores brancas e frutos usados para fazer compota".

Adstringir é limitar, comprimir. Quando a planta é adstringente e sudorífera, siginifica que exala sua essência, e pode ser apertada para nos ceder algo mais.

No hebraico a murta é conhecida como "hadassah". Quando os pais sonham com o futuro de um filho, dá um nome que seja anúncio por onde ele passar. Assim aconteceu no exílio hebreu. Nasceu uma mulher e seu nome foi Hadassah. E como os pais queriam que os persas soubessem quem era ela, segundo o costume deu um segundo nome, "Sitar", que significa "estrela".

Os persas estudavam os astros, então, ver alguém com nome "Estrela" provoca admiração, brilha e provoca mistério! Mas para seu povo, Hadassah era o bom perfume, a murta, a planta conhecida e necessária.

Daí vem o significado do nome de minha mãe: Ester.
Ontem, durante a comemoração do seu aniversário tive a idéia de escrever isto.

Quem é ela? "Ela é poesia!".

Dizemos isto quando há beleza, profundidade, vastidão no ser.

Ela sorri fácil, complementa conversas com admiração quando ouve uma verdade, ou responde em modo de conselho sem ser pedante. Assenta-se à mesa somente quando todos já estão servidos. Dificilmente se cansa. Quando conversamos sobre superar conflitos ou bençãos, naturalmente escapam as palavras "...pela misericórdia do Senhor!".

Seu nome é Ester pois meu avô, um metodista aplicado à leitura bíblica, distribuiu nomes bíblicos entre os nove filhos. Ela nasceu numa cidadezinha chamada "Castilho", e cresceu em outra minúscula cidade chamada "Paranápolis", e continuou a vida até os primeiros anos do casamento em "Andradina", onde eu nasci. Não continuou os estudos para dedicar-se aos filhos, mas incentivou meu pai: "Vai você primeiro!".

Aqui escrevo o que gosto de lembrar da minha grande mãe:

Ela foi minha professora de Escola Bíblica Dominical. Quando cursava Teologia, houve um exercício para escrevermos no início da aula a sequência dos livros da Bíblia. Me assustei quando o professor estava em pé ao meu lado vendo a velocidade com que eu escrevia a sequência dos livros: "Vejo que o David Junior frequentou a Escola Dominical, minha gente!". Minha resposta foi: "Não só frequentei, fui desde os seis anos convidado por minha mãe para ajudá-la a preparar as aulas".

Quando eu tinha cinco anos procurei-a e disse: "Quero cantar na igreja!". Escolhi a música para me apresentar, e ela ouvia o LP junto comigo. Me ensinava as palavras, tirava a agulha do disco e cantava comigo. Num culto mandou um bilhetinho pra frente sem que eu soubesse, e foi anunciado que eu iria cantar. Em meio a calafrios, vestindo um conjunto de moleton, subi. Colocaram uma cadeira para me elevar ao púlpito, inflei o pulmão e cantei "Só o amor de Deus é fiel!" (Que na minha mente, a palavra só e sol era a mesma coisa!).

Ela me ensinou a preparar uma horta. Arrumei num matagal em frente nossa casa na Vila Teixeira (Campinas,SP), um terreno para plantar. Ela me levou ao centro da cidade, comprou uma enxada e um regador, me levou para conhecer o Mercadão, e disse: "Escolha três pacotinhos de sementes, e eu te ensino como cultivá-las".

Ela reunia o Wagner a Débora e eu em volta da cama de casal, lia um texto bíblico e orava. Houve dias de lágrimas em seu rosto por dificuldades em casa, mas também houve dias de eu abrir os olhos durante a oração e ficar só olhando seu rosto avermelhado, erguido, orando e orando com destemor.

Foi junto dela que recebi minha primeira resposta de oração: Uma bicicleta azul!

Certa vez liguei e disse que queria cursar Teologia para ser um pastor. Meus pais estavam viajando. Minha mãe pediu-me para retomar o assunto no dia seguinte. Quando novamente toquei no assunto ela disse: "Vai! Faça sua matrícula".

Fui convidado a palestrar num lugar distante. Chegado o dia de viajar notei que ela e meu pai se arrumavam como se eles fossem viajar. Paramos no meio da sala e meu pai orou. Entramos no carro e fomos conversando várias coisas. Quando cheguei no aeroporto, os olhos dela estavam cheio de lágrimas, e com a voz embargada disse:

"Um dia o levei a uma Escola Bíblica de Férias. Você tinha sete anos. Participou de estudos e brincadeiras, e ao final da escola, chamavam nome por nome lá na frente para pegar o certificado, quando chamaram seu nome meu coração disparou, e você foi andando no meio da multidão e não tive a sensação de que ia buscar o certificado, você simplesmente ia... Eu sempre soube que Deus o chamaria para ser um pastor, mas eu nunca te disse isto para que você não o torna-se coagido por minha visão. Hoje viemos ao aeroporto para lhe dizer: Deus é contigo!".

O Livro de Ester na Bíblia, é o único livro que não contém a palavra "Deus". Precisa?

A tradição judaica diz que quando o rei Assuero chamou Ester para ser "a rainha", e ela soube de toda a glória que possuiria, muito inquietou-se pois não se preocupava com as glórias dos impérios.

Ester é um nome para mim de quem tem Deus pelos poros, exala, tem fragrância.
Meu amigo Maurício certa vez disse: "Quando ligo em sua casa, prefiro que sua mãe atenda antes. Ela tem uma voz de 'telefonista do Céu'".

Sitar para os persas,
Hadassah para os hebreus,
Myrta para os gregos,
Mãe, para o Wagner a Débora e eu!

3 comentários:

  1. e Tia pra outro tanto de gente!
    heheehehehe
    Ficou ótimo o texto e linda a declaração!
    bjs e vejo ocês dia 6

    ResponderExcluir
  2. Mano, falar o que?? Você lembrou da horta e das orações todo dia à tarde... me emocionou, mais uma vez!
    Wagner

    ResponderExcluir