28.8.08

MEU CAMINHÃO DE MUDANÇAS


Nasci no dia 08 de dezembro de 1979. Sou o caçula. Tenho vaga lembrança de Andradina, minha cidade natal, de onde saí com um ano e meio. Carrego alguns flashes, meus tombos pelo quintal, no colo de um ou outro parente. Sim, eu tenho boa memória!

Quando estava com 2 anos estávamos em Americana. Meu pai vinha trabalhar no Banco Itaú em Campinas, e instalou a família aqui perto. As lembranças dali são ensolaradas, vizinhos simpáticos, brincadeiras no quintal, e muitos, mas muitos desenhos pelas paredes. Foi em Americana que minha mãe pensou que eu seria um desenhista. Eu andava com um giz de cêra verde na mão. Como meu bicho preferido era o pato, e desejava ter um, o desenhei em cada parede da casa, grande ou pequeno, eles estiveram ali comigo!

Não demorou muito estávamos morando aqui em Campinas. Primeiro no Aurocam, depois no Aurélia e Vila Teixeira, atrás da escola "Sophia Velter Salgado", onde estudei até a oitava série, e por dezessete anos moramos na Vila Itália, um pouco só pra cima de onde estávamos. É uma vila estreita, com duas ruas compridas paralelas. A maior parte da minha história está ali.


Foi ali, em 1986 que comecei a abrir os olhos pra vida. Quando mudamos para aquela casa, senti o que era uma mudança. A casa tinha uma sacada sobre a garagem. Era antiga. Devia ter uns 30 anos. Um terreno estreito, mas que me proporcionou usar toda criatividade: passava as manhãs criando coisas, serrando, martelando, pendurando pelo quintal - ali meus pais pensaram que eu seria um engenheiro devido ao gosto pelo desenho mais a "mão na massa".


Em 1987 fui para a escola. Só soube que ia quando chegou o dia. Sempre fui muito distraído. Não me atentava aos comentários que faziam sobre qualquer assunto. Sempre vivi dentro do meu mundo. Ameaçava chover naquela manhã, minha mãe e minha irmã levaram-me para a escola estadual que havia no bairro. Fiquei no pátio junto de minha mãe enquanto a Débora foi ver em qual sala eu iria.

Entrei, me assentei, e na minha frente estava um alemãozinho que mostrava como assobiava por entre os dentes. Era o Juliano Laitz. Estudamos juntos até a sexta série. Hoje é um policial militar.


Minha primeira cartilha foi a "Caminho Suave". Minha primeira professora chamava-se Eidí. Era uma mulher grande, com olhos arregalados, voz grave e alta. Nos ameaçava dizendo que iria chamar sua filha lutadora de caratê. (Nossa, quanto medo bobo eu tive...).


Em todos os anos eu fiquei de recuperação. Achava normal. "Pra quê chorar no meio do ano se no final uma semaninha resolve?". Assim fui.


Na sexta série, 1992, a coisa ficou feia pra o meu lado! Descobri o que era adolescência.

Quando vi, já estava nela e não tinha como sair. Conheci o Daniel, Érik, Walace, Juliano Basso (Japonês), fazíamos campeonato de "Futebol de Botão", e jogávamos basquete em frente de casa - ouvia deles o placar dos times, a carteirinha do clube que a família frequentava, a música do momento, a menina que eles já tinham beijado, a discoteca que frequentavam, o tênis que "caras bacanas" usavam, etc. - e eu, não sabia e não tinha nada disto.

Procurei andar com eles. Me angustiei. Não conseguia acompanhá-los, mas como eram os caras mais bacanas do bairro, "eu tinha" que andar com eles. Resultado? Repeti a sexta série...


Em 1993, minha paixão era bicicleta. Eu desmontava, pintava, colocava novos assessórios, e desfilava com ela pelo bairro. Mas ainda, eu não era do tipo que escolhiam logo quando montavam os times. Era facilmente apelidado. Tinha vontade de chorar na rua - algumas vezes não me contive - e sobre isto me rotularam. Resolvi andar com outra turma, que não fosse da minha rua nem da escola. Infelizmente, eles moravam próximos e eu não pude mudar de turma. Fiquei ali.


Nesta época tocava "For your babies" do Simply Red, "Must been love" do Roxette, "Always" do Bon Jovi - gostava destas e de outras músicas, mas me sentia culpado quando ouvia.

Durante a semana lutava para me enquadrar numa turma, e a partir da sexta-feira começava a rotina de ir à igreja. Era outro lugar onde não me encaixava, mas carregava latente a obrigação de me enquadrar.



Em 1996 entrei no curso técnico de mecatrônica, na ETEC. Fui porque um amigo da igreja entrara, e disse-me que era pra quem quisesse mecher com robótica. Foram os 3 anos perdidos. Hoje, nem me lembro como calcular um resistor, ou quanto tempo demora pra esquentar um ferro de solda!

Foi neste tempo que descobri o quanto gostava de shopping-center. Era época de inauguração do Galleria, e ali fui pela primeira vez ao cinema assistir "Independence Day". Acredita?! (Nem eu). Quando estava dentro daquela sala pensei: "O que tem aqui que as pessoas da Assembléia de Deus dizem ser do diabo?".


Eu queria formar uma banda de rock na igreja. Não pude. Quis então fazer estudo bíblico com os meus amigos músicos. Fui vetado. Então simplesmente saí daquele lugar e nunca mais voltei.


Foi assim que cheguei na Igreja do Nazareno Central de Campinas. Ali pude: cantar num coral de negros (Kadmiel, acredita?), montar minha banda de hard rock, tocar nos encontros dos adolescentes, e ter uma turma. Por isto, na minha adolescência eu me encontrei naquele lugar.


Até então eu só tinha lido uma ficção do Frank Peretti chamado "Porta da garganta do dragão" e uma coletânia da Clarice Lispector, mas não me causaram nada. Exceto "A Bíblia em quadrinhos" da Editora Betânia, que me roubaram horas entre os 11 aos 14 anos, e "Histórias do Oeste".


Mas ao ouvir aqui e ali as histórias cristãs, fui a uma livraria e comprei a biografia de George Müller. Não demorou muito e eu estava com a biografia que mais me influenciou, "John Wesley: Sua vida e obra", e encerrei 1998 com "Conhecimento Espiritual" do Watchman Nee.


Entrei no seminário teológico em 1999. Neste tempo já estava totalmente tomado pela leitura e escrita. Escrevia o dia todo. Troquei a noite pelo dia por causa da leitura, e mais uma vez, tive a certeza que vivia num mundo diferente de qualquer outro cara de 19 anos.

Li "Heróis da Fé" de Orlando Boyer, "Vitória sobre a tentação" de Bruce Wilkinson, "Tudo se resume no amor" sobre Charles Finney, li a "Perfeição Cristã" de John Wesley, "Sermões Evangelísticos" e "Os Puritanos" de D. Martyn Lloyd-Jones, e fiquei uns 2 anos imerso na literatura deste autor. Ele me influenciou em como ser um pregador. Li seus Comentários de Romanos (não todos), mas o bastante para absorver do compromisso puritano do exame da Bíblia.


Minha chatice e exigência com os pregadores dos meus dias se deve a ele e ao livro "Lições aos meus alunos" do grande Charles Spurgeon. Já meu levantar e sair, mesmo ficando por respeito, diante do raciocínio "des-bíblico" se deve ao contato com "Cristianismo Puro e Simples" do C.S.Lewis.


Em 2003 descobri Rubem Alves. Li "Um céu numa flor silvestre: a beleza em todas as coisas", e percebi que tinha necessidade de mudar minha busca por conformidade teológica. Neste mesmo ano, mudei minha impressão sobre o Caio Fábio, o qual gostaria de ter encontrado mais vezes para um abraço e ouvir seu jeito manso.


Quanto mais eu mudo, mais convicto de mim fico. Hoje, eu vejo o quanto "mudança" faz parte de mim. E que "não se enquadrar" faz parte do que sou.


Sinto que o mundo é quadrado, e eu sou redondo, ou o inverso.


Sobretudo, eis as minhas convicções:

Nasci fruto do amor. Meu nome significa "Amado", e minha extensão é conhecer o Deus-Amor!




David, 28/08/08.

Um comentário:

  1. É incrível como as pessoas podem se identificar, umas com as experiências das outras. Mudança também é uma palavra presente e significativa em minha vida. Quanto mais eu mudo, mais eu gosto de mim mesma e me aproximo de meu Criador. Louvado seja Deus pelas mudanças que Ele permite ocorrerem em nós, para nosso aperfeiçoamento. Que Papai continue te abençoando, irmão.

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