13.9.08

REVOLTA

REVOLTA
Vinícius de Moraes

Alma que sofres pavorosamente
A dor de seres privilegiada
Abandona o teu pranto, sê contente
Antes que o horror da solidão te invada.

Deixa que a vida te possua ardente
Ó alma supremamente desgraçada.
Abandona, águia, a inóspita morada
Vem rastejar no chão como a serpente.

De que te vale o espaço se te cansa?
Quanto mais sobes mais o espaço avança...
Desce ao chão, águia audaz, que a noite é fria.
Volta, ó alma, ao lugar de onde partiste

O mundo é bom, o espaço é muito triste...
Talvez tu possas ser feliz um dia.

(As Coisas do Alto. São Paulo : Companhia das Letras, 1993, p. 65)

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