O QUE FAZER COM MUITAS IDÉIAS?

Foto: Waldinho

Eis algumas frases que nos perseguem:

"Preciso de um Rivotril, não consigo me desligar pra dormir".

"Meu Deus, tenho tanta coisa que não sei por onde começar!".

"Todo sábado e domingo é um tédio!".

Hoje estive com saudades de uma caneta Bic e um bloquinho de papel. Não me ofereça um palm top, o que quero é o que está dito!

Um palm top você segura com todo cuidado, limpa a tela, segura com cautela para não deixar o aparelho ou o ponteiro cair. Quando você está com um palm top, pode chegar um amigo com um aparelho igual com recursos diferentes, ou muito melhor esnobando os recursos.Quem usa palm top para tentar amenizar uma cabeça cheia não experimenta a mesma virtude de quem anda com uma caneta barata e um bloco que cabe no bolso.

Pois, se duas pessoas com canetas e papéis se aproximarem, elas não discutirão qual cor é a melhor, a gramatura do papel - a não ser que a caneta seja muito ruim e o papel não sirva - elas se ajuntarão para observar "em silêncio" as peculiaridades: a caligrafia, os contornos que são feitos para esboçar um pensamento, e o melhor: as idéias que surgem naquela conversa e que ganham forma!

Você se lembra de quando começamos usar os lápis e as canetas, e mordíamos? Ah, ninguém defende esta idéia, mas no fundo havia um sabor especial por ter um incrível instrumento que aliviava a cabeça durante os cálculos e nos socorria sob a desconfiança de não conseguir guardar aquele telefone...

Quando estamos com um laptop, palm top, e principalmente um celular, as pessoas não se importam com as idéias, elas se prendem aos recursos dos aparelhos.

Bashô, um poeta japonês que viveu no século XVII, tornou-se conhecido por seus haicais, aqueles poemas curtos que dizem grandes coisas. Um dia, à beira de um lago ele escreveu:

"Velho lago,

mergulha a rã,

fragor d'água".

O lago sempre esteve ali. As rãs sempre mergulharam. Toda água é água e dá o seu fragor. Tédio é tédio em todos os lugares. A cabeça de todo mundo é igual. Mas assentar, observar, e sentir, são características de quem vive.

Um dos exercícios saudáveis pra quem vive o tédio, ou o excesso de idéias, é a observação. Ir ao bosque sem relógios e telefone é ótimo!Soube de um palestrante que fez uma caravana ao Saara. Um conhecido meu foi. A pergunta que todos faziam sem pensar era: "Já está chegando? Que horas são?". "Chegando onde? Que encontro marcamos?" - era o que o líder da comitiva respondia.

Os excessos muitas vezes nos afastam dos lagos, das rãs, e do frescor. Cheios de idéias, é capaz de dizermos um estranho haicai:

"Quem represou esta água?

Que bichos são estes?

Meu Deus, justo nesta roupa foi espirrar!".

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