8.1.10

E CULPA TEM REMÉDIO?




Uma das frases mais fortes do filme Carandiru é a que da título a esse texto. — Se tivesse, todo mundo iria querer!—foi a resposta.




De fato, após dois mil anos de Cristianismo, o mundo ocidental continua a ser a banda mais “culpada” do mundo. Alguns até constatam isso, mas colocam a culpa disso no “diabo”. A questão é que parece que o “diabo” dos cristãos faz mais mal a alma que qualquer outro “diabo” da terra. O Diabo agradece o “serviço” prestado tão eficientemente a ele, quando ele já havia sido “desbancado” na Cruz.



Os cristãos re-inventaram o “diabo”, fizeram-no quase do tamanho de Deus, colocaram sobre ele a responsabilidade de tudo, atribuíram o mais ao “pecado”, e não souberam como explicar a “vitória” de Jesus no Calvário. Afinal, tal “vitória” não se deixa perceber na “igreja”, que existe para contar uma “historinha” que não se parece com nenhuma vitória. Foi o berço judaico-cristão ocidental que tornou esse lado do planeta o mais adoecido da terra. Dessa origem emergiram as ciências da alma, como a psicanálise, a psicologia e todos os remédios químicos para a “pacificação” da alma. Foi também desse lado do mundo que a “morte de Deus” já foi decretada várias vezes, tanto pela filosofia, como pela ciência e pela ideologia política—praticamente todos os decretos promulgados por judeus ou cristãos “traumatizados”.



Obviamente, que aos ouvidos da “igreja” isso sempre é interpretado como “culpa” dos outros—dos “pensadores” autônomos e alienados de Deus. Há mais ou menos uns 25 anos eu me dei conta desse processo e resolvi ler as biografias e as obras daqueles que fizeram os “decretos” em áreas diferentes do saber. Minha conclusão foi de “absolvição” a eles. Aquele “Deus” que eles declaravam morto, tinha que ser declarado não como um “falecido”, mas apenas um “inexistente”. Não estavam falando de Deus—não tiveram a chance de conhece-Lo—, mas tão somente da “só-letragem” do nome divino, que em nada correspondia a Deus, conforme revelado em Cristo.



Para os que não eram cristãos—como no caso dos judeus que fizeram tais “decretos”—, seu grito de libertação de ‘Deus” era igualmente verdadeiro. Afinal, acerca do “Deus” dos judeus, Jesus já havia dito (João 8-9), que “Ele” não tinha nada a ver com o Deus de Abraão. —“Vós sois filhos do diabo, que é o vosso pai, e quereis satisfazer-lhe os desejos”—foi o que disse Jesus acerca daquela “religião” e de seu patético e adoecido “Deus”.



O que esses filósofos, psicólogos e ideólogos fizeram foi apenas dizer a mesma coisa que Jesus disse, só que como negação—eles não tinham a revelação como proposta, e o “Jesus” acerca do qual ouviram posteriormente, também não podia ser “enxergado” pelo simples fato que o cristianismo havia cometido a falsificação de assumir a “Sua” representação entre os homens. A conclusão era simples: se os “representantes” eram como eram, e se “Deus” se parecia com “eles”, então, tal “Deus” havia morrido de inadequação aos tempos, falecera em algum lugar no passado; e concluíam que essa era a razão da “igreja” insistir em mate-lo “vivo”, como a um “El Cid morto sobre o cavalo branco”, apenas para intimidar os inimigos de cabeça fraca.



O fato é simples: é inegável que os povos mais primitivos de hoje ainda são mais sadios de alma que os povos “cristãos”. E, entre nós, quando as barbaridades acontecem, a culpa sempre é colocado sobre o pecado e sobre o inevitável curso apocalíptico da história. Assim, nosso álibi é sempre a “culpa” humana. Enquanto isso, a Solução da Cruz—a Graça—continua sendo adiada para o céu, onde menos se precisará de Graça, pois, lá a Graça terá sido transformada em bem do ser para toda a eternidade!



A questão é que somos nós que desde 332 desta era nos tornamos os “senhores” dos homens. E tanto faz se estamos falando do catolicismos romano e europeu, ou o protestantismo anglo-saxão, o resultado é um só: onde chegamos como imperadores da “cruz” e da “igreja”, não só destruímos culturas e matamos os povos antigos, como também instituímos valores do medo, que acabaram por nos fazer ter o “ocidente” que temos, e o resto do planeta que hoje vemos existir: igualmente esfacelado por nosso “valores”, sempre resultado das produções do medo e da culpa.



As tribos humanas ainda não completamente atingidas pelo vírus dessa “gripe religiosa” vivem melhor do que nós, e são menos adoecidas de alma do que os “missionários” que os visitam a fim de os “salvarem”. “Nós” é que transformamos tudo em pecado, e fornecemos todos os materiais que o diabo gosta a fim de impedir a vitória que já foi conquistada na Cruz.



Uma “igreja” que fala só em pecado e demônio será sempre a maior vitima de seu próprio discurso. Ficará neurótica e seu mundo será sempre “mal”. Eu poderia escrever um longo livro sobre isto, e mostrar os desdobramentos disso na sociedade contemporânea—indo do trafico de drogas aos hospícios e clinicas de doentes mentais que abundam entre nós! Isso sem falar em política! Não é à toa que no Brasil os evangélicos fornecem o maior contingente de loucos sendo tratados em clínicas de atormentados na mente.



Enquanto uma nova geração não se levantar crendo no Evangelho da Graça de Deus—e tal fé não apenas pacificaria os nossos corações, como também desconjuntaria toda a franquia de “representação” de Deus na Terra—, nada de bom será realizado, e a pergunta do filme Carandiru continuará com a mesma resposta. —Se houvesse remédio para a culpa, todo mundo iria querer! Há o remédio. O problema é que inocularam o veneno do pecado na alma dos pacientes, e não o antídoto da Graça de Deus em Cristo Jesus.



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