30.11.08

O QUE TE FAZ BEM...


'Assim como um pai se compadece dos seus filhos...'
Salmos 103:13

Hoje é domingo, dia das pessoas procurarem os templos da cidade para fazerem suas preces e ouvir alguma mensagem que alivie a dor e o fardo da vida.


Eu fiquei em casa devido ao repouso que os médicos pediram. Assisti ao filme “Lado a Lado”, com Julia Roberts e Susan Sarandon, uma história linda sobre a brevidade da vida, simplesmente quebrantadora.


Houve um período do filme me deixou em lágrimas. Quando a personagem de Susan Sarandon, mortalmente adoecida, conversando com a amiga conta de quando seu pequeno filho, de seis anos, se perdeu num supermercado. Num momento de palavras que apertam o peito e o pescoço, um rosto avermelhado e banhado em lágrimas, dizia à amiga como foi demonstrar seu amor procurando por alguém frágil, entre prateleiras e mercadorias. Como uma mãe, prestes a morrer de uma grave doença, lembrava-se da experiência de não permitir seu filhinho se perder.

Até hoje me perco em supermercados...


Mas a situação que mais me traumatizou foi numa cruzada evangelística que houve no Taquaral. Uma multidão de aproximadamente trinta mil pessoas ocupava toda arquibancada. Sob a "Concha Acústica" haviam corais, uma grande orquestra, e pregadores e intérpretes. Tudo novo e grande demais para os meus cinco anos.


Eu estava sob os cuidados de uns tios jovens, que distraídos assentaram-se próximo sem me avisar; e não os vi. O desespero por me sentir esquecido foi tão grande que saí correndo sem olhar ao redor, chorava silenciosamente, punha a mão nos olhos, na cabeça, imaginava que não conseguiria mais voltar para casa, que a fome viria e teria de pedir comida para pessoas estranhas, que a noite fria chegaria, e eu não estaria no quarto com meus irmãos. Tudo horrível!


Depois de dar uma volta no espaço onde estava toda aquela multidão trombei com minha mãe. Aquela foi a melhor sensação. Pude abraçá-la bem forte e ouvi-la dizer: “Pronto, não precisa soluçar mais porque agora você está comigo”.


Já pensou hoje sobre o amor de Deus? É natural para um pai procurar seu filho nos corredores de um mercado, e tudo o que ele deseja falar é “Agora você está comigo”, e lá, depois de anos, contar como foi gostoso o encontro. Como ainda nos permitimos pensar que um pecado é suficientemente poderoso para inibir Deus de nos procurar? Que abandono dos homens é o abandono de Deus? Nenhum!



Num acampamento que fizemos com o tema “Na Rocha”, todos os dias os adolescentes cantavam uma música com a frase “Se perco, me encontras...”. Alguns cantavam mascando chicletes e de vez em quando conversavam alguma coisa engraçada com quem estava ao lado. Mas outros ao cantarem abaixavam a cabeça e choravam desajeitados, alguns ficavam envolvidos numa "esfera de espanto", tirando o boné e chorando como se estivessem há anos sem serem amados.



É isto que o amor de nosso Deus faz, traz espanto porque não achamos que merecemos um amor insistente.



Com minha razão limitada cheguei a esta conclusão do amor de Deus. Imagine Ele, que realmente sabe traduzir seu amor por nós em atitudes todos os dias, como não se sente em relação a nós?



Deus é amor (1 Jo 4:1). Nada do que fizermos muda quem Ele é. Não podemos permitir que a indignação, ou o desejo exacerbado de favorecimento pessoal, nos proíba de ver que “Ele faz nascer o seu sol sobre maus e bons” (Mt 5:45).



Se sentir-se perdido, o Pai está à sua procura por entre os corredores do mercado. Pare tudo, converse de coração com Deus, prove da experiência de ser amado incondicionalmente!

Com amor,



David Junior (Fevereiro de 2008)




Minha oração da sinceridade

"Querido Jesus,


Estou nesta tarde ensolarada de segunda feira com muita tristeza. Gostaria muito de estar bem, porém não estou.

Sabe Jesus, preciso me abrir contigo por que ainda tenho dificuldade de me expor às pessoas. Tenho a sensação que, se eu me assentar e começar a conversar os meus conflitos, não me faltarão ouvidos; mas as respostas serão sempre as mesmas, e, em sua maioria jargões, que no fundo são uma satisfação latente pela minha fragilidade.

Sinto-me só Jesus...
Não tenho medo de dizer isto, também não me sinto culpado por sentir-me assim. Sinto necessidade de conversar com o Senhor, pois li nos Salmos várias orações de homens, até melhores que eu, que pensavam que estivesses dormindo.

Eu entendo Jesus que preciso falar com alguém, mas vivo num mundo que não foi inventado por você. Aqui as coisas são diferentes. Mesmo no meio daqueles que cantam sua história, e se reúnem com seu nome, as conversas não tem gerado em mim confiança de que são ouvidos de Cristo para meus momentos de crise.

Jesus, se eu chamar alguém pra conversar sobre minha tristeza, tenho certeza que trocarei de peso. Deixarei a individualidade e a solidão, e tomarei pra mim a “reprovação”.

Não estarei próximo de alguém na igualdade. Serei reprovado nas amizades. Pois pintaram alguém que não sou. Eu sei quem sou. Não sou um super-homem, não sou um "guru" com respostas para os momentos mais difíceis de qualquer um, nem tampouco sou médico. Tenho problemas com as pessoas, sou deixado de lado por não satisfazer suas expectativas, minhas idéias não agradam a todos, e me sinto em profunda tristeza mesmo em dias ensolarados como este.

Senhor, preciso te dizer a verdade: Não sei transformar frases de efeito em atitudes. Já tentei tantas vezes, mas não consegui. Aqueles provérbios bonitos que todos têm para momentos como este, não brotam tão facilmente assim.

Às vezes sinto pressão no peito, e pontadas no abdômem. Sei que isto não é normal, mas a impressão que tenho é que tenho que conviver com isto pelo menos um período até chegar a cura. O Senhor foi homem de dores e sabe o que é o sofrer...

Jesus, sempre ouvi, desde minha infância que você sofreu demais. Eu leio e admiro sua história, porque foi rejeitado, mesmo sendo quem é. Eu não sou quem você é, mas eu estou me esforçando nesta vida pra tornar a ser. E sei que você vai me favorecer.

Se eu fosse exatamente como você é, mesmo assim seria reprovado. Eu não gosto de viver aqui na avaliação constante que fazem da minha sinceridade Senhor...
Você tem alguma solução pra este momento?
Meus livros não me ajudam.
Minha agenda telefônica não me inspira confiança.
E o que mais me atemoriza é que minha sinceridade é um escândalo.
Sei que o Senhor ouve minha oração e pode me ajudar.

Eu gentilmente me disponho a ouvir tua voz. Não quero ter sensações como muitos dizem ter para negar a humanidade e a carência de você. Eu quero sim, ter uma vida que flui por ser resposta da tua voz.

Confio no que você diz. Basta uma palavra tua e meu corpo estará descansado, minha mente serena e minhas emoções apaziguadas.

Jesus, estou à Sua espera, como sempre estarei!".

David Junior - (escrito em Junho de 2005)



Deus sabe 'sim' que sofremos!

Estes dias tornaram-se especiais. Estou aprendendo o valor da vida que busca a Deus com a intensidade da entrega, a identificar o que realmente tem valor e o que é trivial e por muito tempo pensei que fosse reluzente.


A única coisa que exise para alento durante o sofrer são as nossas "convicções". Busque-as, mas não em templos, literatura, religiosidade e outras coisas mais. Entre para dentro de si mesmo que o teu silêncio seja involuntário. Somente aquele que aceita o sofrimento, consegue entrar dentro de si, e ali também deverá aceitar quanto barulho ainda existe na alma, quantas emoções desnecessárias devem ser desfeitas. Quanta cor se desbotou, quão insípido tornou-se o gosto que um dia veio como pela primeira vez.

Aceitar um período de sofrimento não quer dizer que você está "jogando a toalha", sendo pessimista. Muitas vezes não aceitamos situações, não é porque somos "fortes e corajosos", mas sim porque não cremos que Deus vive aqui neste momento, sente o cheiro e vê o crepúsculo, e também anseia pela virada do dia.

É na aceitação que obtemos o silêncio necessário para crescer na caminhada com Deus. Para que Deus seja pra dentro de nós, o nosso Deus, a alma deve se aquietar. "Aquietai-vos e sabei que Eu Sou Deus" (Sl 46:10).

É no sofrimento que nos tornamos coerentes. Paramos de cantar a música que fala sobre Deus, e passamos a crescer na confiança. Paramos de dizer com os lábios, para viver de coração. É nele que deixamos de ser meninos, e buscamos a idade adulta da vida.

Durante o sofrimento você ou crê que Deus é quem Ele é, ou então toda fé, pensamento, paixão, e ritual foi simplesmente "mais um céu pintado no teto da capela", que olhando é bonito, mas não faz sentido querer. O querer saudável para a vida deve ser na convicção de conhecer a Deus, no amor, e no anseio de exercer misericórdia.

Este querer habita o coração de qualquer um, é gerado por Deus. Porém a aceitação dele é difícil, porque surgimos e crescemos num mundo onde a mania de sentir-se bem é viciosa.

Certamente Deus sabe que sofremos, o importante é aceitar que na dor saímos do ponto de partida, damos a volta, e reconhecemos que tudo antes não fora partida para conhecê-Lo.


Mas agora tudo parece ser.


Com sensibilidade aos que sofrem,
David - (texto escrito em Fevereio de 2008)


Com saudade, mas muita saudade...
Hoje, em meio às dores e cansaço da ordinariedade do dia, veio me uma profunda saudade. Não àquelas que são frutos da lembrança, mas uma profunda saudade do que nunca vi.


Philip Yancey, no livro "Decepcionado com Deus", escreveu algo fantástico, mais ou menos assim: "A Fé é um tipo de saudade de um lugar que jamais visitamos, mas que nunca deixamos de desejar".


Nunca estive no Céu, mas desejo-o com todo meu ser - corpo, emoções, inteligência - Diga-me que ele não existe, e terei de sentir pena de quão sem sentido tornou-se sua vida.


Viver intensamente pelo que somente tem aqui na Terra, é colocar a mão sobre os olhos, contra o Sol que é intenso, crendo que sua mão realmente o encobriu. A grande certeza que tenho por saber que não sou daqui, é não me encontrar mais aqui. Meu pensamento está sempre perguntando "Deus, onde o Senhor está?". "Estou bem contigo?". "Jesus, leva-me à beira do poço para conversarmos sobre 'água!!'".


Saudade é fome. É desejo que envolve, pensamento que aliena, é música no silêncio da alma.


No mais profundo de mim existe alguém. Não sinto saudades sem relacionamento. Tenho muita vontade de entrar dentro de mim mesmo, e ali ter comunhão.
(Sábado, 23:35 - me recuperando da meningite)

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