30.10.08

Quem (ainda) me influencia?

Quando alguém me pergunta: "Quem é sua influência?" esconde as demais perguntas:
"De onde você surgiu? Há alguém que você imita? Quais são seus hábitos?".

Bom, "influência" é o que flui pra dentro de nós. Há coisas que estão dentro de nós porque chegamos com elas na vida. Outras fluem num período da vida que permitimos. Já outras, desejamos que fluam, porém nem sempre acontece. (Também, sempre há o que desejamos que não influencie mais...).

Dificilmente consigo ser cativado pelos homens tidos como "grandes", principalmente na igreja brasileira que conheço. Pois os que conheci "venderam" um produto que não tinham. E porque não tinha o que marketizavam sobre si, "venderam-se" para esta geração.

Os que um dia quis que me influenciasse, hoje são homens que conversam sobre "muito dinheiro", prédios, viagens, "os maiores do momento", etc.

Por isto, coloquei pra mim que ler é a melhor coisa a ser feita antes de olhar alguém.

Quando leio a BÍBLIA, primeiramente me vejo. Aceitando-me como sou, consigo aceitar os outros, e saber quem devo procurar para me influenciar.

Hoje, não mais que a Bíblia, me permito sob o pensamento de alguns homens. Sim! Pessoas com humanidade, que gostam de não ser super-heróis:


Keith Green:
"Quero morrer e permitir,
Sua vida em mim, assim viverei,
e compartilhar a esperança que me deu e me libertou".
Tenho sede de Deus, por isto, às vezes fico vendo os vídeos do Keith no Youtube, (em poucos minutos as lágrimas rolam...). Suas apresentações ao vivo mostram o quanto era quebrantado, apaixonado, e sensível. Gosto de "Your love broke through", "Make my life a prayer" e "My eyes are dry". Viveu somente 28 anos. Sete anos foi o tempo entre sua conversão e morte num trágico acidente aéreo em 1982. É o testemunho que mais me impulsiona a um radicalismo por Jesus.

John Wesley: Um jovem de apenas 25 anos que sentiu o coração arder estranhamente ao ouvir o sermão de Lutero sobre "A Justificação pela fé". Viveu no século XVIII, pregou mais de 40 mil sermões, escreveu mais de 200 obras, e quando lhe perguntaram o segredo, disse: "Incendiei minha vida, e permiti o mundo assistir".
Leia "João Wesley: sua vida e obra", de Matteo Llelievre, Editora Vida! Site com riquíssimo material wesleyano: http://wesley.nnu.edu/


C. S. Lewis: "Cristianismo Puro e Simples", editado agora pela Martins Fontes é um livro essencial para quem deseja pensar de acordo com o evangelho, sem o excesso de pensamentos e costumes adquiridos. Este livro me despertou a liberdade de pensar de acordo com o Evangelho.



Eugene Peterson: "O pastor que Deus usa", agora editado pela Mundo Cristão. Me ensinou que "ser pastor para fazer uma mega-igreja é um desrespeito ao carinho que uma ovelha necessita!". Peterson é tradutor da Bíblia, tanto do grego como do hebraico. Me despertou maior paixão pela vocação e leitura da Bíblia!






Henry J. Nouwen: Padre católico, holandês, que trocou a cátedra de Harvard e Yale, para dedicar-se à capelania de uma clínica com pessoas debilitadas com a síndrome de down. Contruiu textos inspiradores baseados em sua experiência de fazer da vida uma resposta ao convite de Jesus. O livro dele que mais me influencia é "A Volta do Filho Pródigo", da Editora Paulinas. Aprendi a admirar pinturas de Rembrandt e correr todos os dias para o abraço do Eterno!




Brennan Manning: Como ele mesmo diz, "maltrapilho de Abba". Um autor que rema contra a maré "igrejeirista". Que insiste em falar sobre o amor de Deus num mundo que fala sobre "amar o eu". "O Evangelho maltrapilho", da editora Mundo Cristão, é simplesmente necessário para quem está buscando viver em paz com Deus. Nele você encontra a afirmação "Nada do que você fizer alterará o amor de Deus por você!".
Assista esta mensagem, pelo próprio Brennan:
http://br.youtube.com/watch?v=4GJEvMq19Mw



Philip Yancey: Com sua sinceridade e polêmica, mas sobretudo com sua humanidade submetida ao que a Palavra de Deus diz. Nele, encontrei alguém que gosta de escrever com pesquisa, que conhece a Palavra e por isto não vive por de trás da massa. Questiona a igreja (Por isto pastores não gostam dele!). Seus livros são pautados nas interrogações que muitos têm, mas não dizem para não serem excomungados: "Por que parece que Deus brinca com a gente? Por que a igreja não aceita os homossexuais e prostitutas? Por que pune os fracos e não prega contra a cobiça e o orgulho?". Indico o livro "Alma sobrevivente", da editora Mundo Cristão.


Rubem Alves: Quem disse pra mim que minha alma precisa se alimentar da beleza. Lendo-o dá vontade de escrever! Rubem "foi" um pastor. Mas se desencantou com a igreja pelos pecados que ela ainda comete. É tido como herege por não dobrar seus pensamentos ao que todos dizem. É pra quem quer tratar Deus com temor. Tê-lo como "mistério a ser admirado e vivido" e não elemento manipulável. Indico dele "O Infinito na palma de sua mão", editora Verus.
http://www.rubemalves.com.br/

Caio Fábio D'araújo Filho: Que não fala outra coisa senão seguir Jesus! Quando estava no seminário, via a mesquinhez do ensino teológico em perder aulas discutindo sobre "o pecado de Cáio Fábio". Não o conhecia tanto. Mas assentado ali pensei: "Se ele incomoda tanto, deve ter algo...". E tem! Na história da igreja brasileira não houve nenhum pensador, e expositor bíblico como o Cáio. "No divã de Deus", Fonte Editorial, é o melhor livro que você pode adquirir para deixar à beira da cama, ou na mesa do escritório! http://www.caiofabio.com/



São Francisco de Assis: O primeiro a andar na contra-cultura da(s) igreja(s) e da fé sem paz na Idade Média. Quem se vestiu de evangelho e teve corajem de ser pobre. (Pois para ser pobre é preciso ter coragem!). Indico qualquer biografia histórica dele, (exceto literatura espírita). Porém, nada é igual ao filme "Irmão Sol, Irmã Lua" de Franco Zefirelli, sobre Francisco de Assis.






Fernando Pessoa: Dado ao alcool, doente da alma, e agnóstico. Porém, é o poeta que me ensinou que "sinceridade" não é dizer o que dizem, mas deve-se olhar pra o coração é aceitá-lo como está! Não escreveu nada com consistência cristã (como esperamos de um autor cristão). Mas sua poesia descortina a alma como ela é. Indico "Poesia completa de Alberto Caeiro", da Companhia das Letras.







Cecília Meirelles: Segundo o Rubem, sofria de uma distimia. Por que será que os poetas são depressivos? Acho que porque são sinceros... Leio-a e me dá vontade de ser poeta (coisa que não sou). Tenho uma coletânea de poemas da Cecília, selecionada pela filha Maria Fernanda. Adquira e você voltará a adimirar o beija-flôr, as palmeiras, assentar-se na grama, ouvir águas correndo e outras coisas que te faz ser alma vivente!




Espero ter ajudado você,
um grande abraço

David Jr.

15.10.08

COMO TRANSFORMAR UM HOMEM NUMA PEDRA

Tome um homem, pode ser este o mais simples. Cuja história contenha o sofrimento que o manteve vivo. Confira se quando você pergunta sobre sua família lágrimas brotam.
Destes, que numa festa qualquer, fica acanhado por não ter provado daquilo sempre. Mas tranquilize-o, pois dará a ele tantas festas que não haverá diferença da noite de uma sexta-feira para a manhã de uma segunda-feira...

Entre em acordo com várias pessoas para promovê-lo. Descarte quem possa contrariar tuas opiniões, mas enobreça qualquer que fizer um mínimo para exaltar este escolhido.

Comece balançando a cabeça para o discurso deste homem. Aplauda quando de sua boca realmente sair a verdade. Quando assim não for, pense, e diga: "Não é mentira, é só uma opinião pessoal". E realmente pense que isto não prejudica a ninguém...

Tome um gesto ordinário, pertinente e devido a qualquer ser humano, como o dar de comer a quem tem fome, e diga para os jornais publicarem: "O 'Messias' esperado".
Pulverize seu comentário a favor, ao ponto de todos menearem a cabeça concordando contigo.

Quando ele juntar um tijolo sobre outro, diga que é o maior feito já visto. Quando o vir transformar moedas em mais tijolos, faça festa. Diga que há dois mil anos ninguém transformou dois elementos tão opostos como ele fez. E, continue dizendo: "Ele é tudo o que esperávamos".

Dê dinheiro...
Dê viagens ao ponto dele dizer: "Então o mundo é só isto?".
Contrate os publicitários de futilidade para divulgar até seu trato estúpido com o próximo com o slogan: "Que liderança!".

Se ele disser algo, como uma citação religiosa, seja você o primeiro a dizer: "Mas olhem, não é o próprio Deus? Vejam!".
Então, você verá que, tomar o que é mais especial a você, e torná-lo corriqueiro ao outro,
Que suor de muitos, inclusive o teu, é resíduo que, congelando, dá pra depositar um sobre o outro para que este teu ídolo de cima diga: "Ei, vocês de baixo, vejam minha torre!".
Ao lembrá-lo de onde saiu, ele dirá: "Como? Se sempre estive aqui".
Sobre a experiência da primeira vez numa festa, dirá: "Se lá eu não estivesse, não teria a música e você não teria dançado tanto em tua vida".

Então, você - assim como eu - poderá comentar deste coração empedrado: "O que foi que fiz?".

E do alto da torre ele responderá: "Já não disse que tudo foi por minha capacidade?!"

₢ Direitos reservados ao autor. David de Mello Junior 2008.




9.10.08

POEMA DO DIA

Às vezes desejo suspender-me para o mundo rodar
Nem sempre quero o equilíbrio
Difícil é se manter sobre o que vira
Se quero parar, é porque há o que contemplar
Mas rodando, onde está para ele a beleza?

Cego de todos os dias é o mundo
Pois se alguma beleza lhe chamasse, pararia.
Ele não sente saudade, por isto não pausa
Caminhar em sua esteira, te mantém o tônus.
Parar enquanto rotaciona, te faz cair e aleija.

As horas são nossa companhia em sua rotação
Braços erguidos são ponteiros
Erguem-se para alcançar uma haste que tudo pare
Horas marcadas são meus braços e artelhos extendidos
Hora perdida é não encontrar a haste que trava...

David de Mello Junior, 09/10/08 - 07:00

7.10.08

EXTERMÍNIO DE HUMANOS

Lembrei-me dos meninos que pedem no cruzamento da Unip. Nunca vi pedintes mais educados: "Ô parceiro, tem uma moeda pra me ajudar? Pode ser dez centavos... Não tem? Beleza. Vai com Deus!".

Um deles deve ter uns vinte e cinco anos. Barba e cabelos grandes. Magro. Vestindo um bermudão e chinelo de dedo no pé, com uma camiseta polo bem suja e rasgada. Sua pele estava coberta de sujeira da rua, de modo que eu pensei que há dias não lhe deram oportunidade de banhar-se. Os ossos da face fazem os olhos saltar.

Um dia travou o cruzamento. Entre buzinas e gritos, tudo silenciou pra mim ao ver a reação de um deles. Ao ganhar uma quantia de um estudante, foi ao amigo, olhou quanto ele tinha e depositou em sua mão o que acabara de receber, compartilhando com um tapinha no ombro e um sorriso.

Eu estava muito atrasado para a aula. Porém, naquele dia, não queria mais que o trânsito fluísse. Aquilo começou a revolver dentro em mim. Sentia pressão no peito e um nó na garganta. Desliguei a música que ouvia e desci um pouco o vidro para ouvir o que conversavam entre si.

Mas sabe, tem coisas que as necessidades conversam umas com as outras, que nós, cheios de futilidades, não ouvimos. Esta comunicação está numa frequência que só os humanos ouvem. Gente da pressa, de olhos nos ponteiros, que ao vê-los guarda objetos embaixo do banco, ou aumenta o som; não ouve esta linguagem.

Logo, passou uma adolescente, deve ser amiga dos que via. Grávida. Com os braços cruzados tentando conter o frio, passou pela frente do carro e parou ao lado da placa de trânsito. Movia as pernas e tremia no frio, olhando por cima de tudo, e parecia que não enxergava nada daquilo ali. Via além dos faróis e prédios, não ouvia as buzinas. Apenas olhava.

Será que ela olhava pra o céu para saber se choveria mais?
Será que via algo que eu, dentro do carro, não conseguia ver?
Será que ela olhava sem os olhos se perguntando o que haveria de ser do seu filho?

Ah, só de escrever isto eu choro. Lembro-me daquele garoto que veio ao meu encontro na Barão de Itapura, e quando o sinal abriu ele desferiu um golpe na lataria do carro com seu rodinho, tapando o rosto para não mostrar o choro...

Os humanos são assim. Quando de tanto insistir não conseguem o mínimo para sobrevivência, têm um acesso de ira e manifestam chorando, jogando a ferramenta de caça, ou gritando.

Penso agora quais roupas poderei dar aqueles rapazes.
Penso se os encontrarei no mesmo lugar...
Será que fez frio nesta madrugada onde se abrigam?

Há de surgir um dia, em que os prédios perguntarão aos carros: "Onde estão os humanos?".
E, os carros responderão às máquinas que transportam dentro de si: "Já não há mais! Nosso sistema desenvolveu uma defesa diante de qualquer possibilidade de perigo. As máquinas emitiam silêncios, ou sons que inibiam os humanos. Assim, foram sumindo".

Então uma questão estará em voga: "Como nós, as máquinas, surgimos?".
Há quem responderá: "Ora, nós sempre existimos. Somos o aperfeiçoamento".
"Alguém já ouviu sobre 'Amor'?".
"Não se usa mais. Aperfeiçoamos isto e chamamos 'sexo'!".