7.10.08

EXTERMÍNIO DE HUMANOS

Lembrei-me dos meninos que pedem no cruzamento da Unip. Nunca vi pedintes mais educados: "Ô parceiro, tem uma moeda pra me ajudar? Pode ser dez centavos... Não tem? Beleza. Vai com Deus!".

Um deles deve ter uns vinte e cinco anos. Barba e cabelos grandes. Magro. Vestindo um bermudão e chinelo de dedo no pé, com uma camiseta polo bem suja e rasgada. Sua pele estava coberta de sujeira da rua, de modo que eu pensei que há dias não lhe deram oportunidade de banhar-se. Os ossos da face fazem os olhos saltar.

Um dia travou o cruzamento. Entre buzinas e gritos, tudo silenciou pra mim ao ver a reação de um deles. Ao ganhar uma quantia de um estudante, foi ao amigo, olhou quanto ele tinha e depositou em sua mão o que acabara de receber, compartilhando com um tapinha no ombro e um sorriso.

Eu estava muito atrasado para a aula. Porém, naquele dia, não queria mais que o trânsito fluísse. Aquilo começou a revolver dentro em mim. Sentia pressão no peito e um nó na garganta. Desliguei a música que ouvia e desci um pouco o vidro para ouvir o que conversavam entre si.

Mas sabe, tem coisas que as necessidades conversam umas com as outras, que nós, cheios de futilidades, não ouvimos. Esta comunicação está numa frequência que só os humanos ouvem. Gente da pressa, de olhos nos ponteiros, que ao vê-los guarda objetos embaixo do banco, ou aumenta o som; não ouve esta linguagem.

Logo, passou uma adolescente, deve ser amiga dos que via. Grávida. Com os braços cruzados tentando conter o frio, passou pela frente do carro e parou ao lado da placa de trânsito. Movia as pernas e tremia no frio, olhando por cima de tudo, e parecia que não enxergava nada daquilo ali. Via além dos faróis e prédios, não ouvia as buzinas. Apenas olhava.

Será que ela olhava pra o céu para saber se choveria mais?
Será que via algo que eu, dentro do carro, não conseguia ver?
Será que ela olhava sem os olhos se perguntando o que haveria de ser do seu filho?

Ah, só de escrever isto eu choro. Lembro-me daquele garoto que veio ao meu encontro na Barão de Itapura, e quando o sinal abriu ele desferiu um golpe na lataria do carro com seu rodinho, tapando o rosto para não mostrar o choro...

Os humanos são assim. Quando de tanto insistir não conseguem o mínimo para sobrevivência, têm um acesso de ira e manifestam chorando, jogando a ferramenta de caça, ou gritando.

Penso agora quais roupas poderei dar aqueles rapazes.
Penso se os encontrarei no mesmo lugar...
Será que fez frio nesta madrugada onde se abrigam?

Há de surgir um dia, em que os prédios perguntarão aos carros: "Onde estão os humanos?".
E, os carros responderão às máquinas que transportam dentro de si: "Já não há mais! Nosso sistema desenvolveu uma defesa diante de qualquer possibilidade de perigo. As máquinas emitiam silêncios, ou sons que inibiam os humanos. Assim, foram sumindo".

Então uma questão estará em voga: "Como nós, as máquinas, surgimos?".
Há quem responderá: "Ora, nós sempre existimos. Somos o aperfeiçoamento".
"Alguém já ouviu sobre 'Amor'?".
"Não se usa mais. Aperfeiçoamos isto e chamamos 'sexo'!".

Um comentário:

  1. Somente hoje entrei em seu blog...já o conhecia de ouvir falar...não me admirei com o que li, pois a algum pouco mas suficiente tempo temos compartilhado e aprendido com você a palavra de Deus, mas me emocionei mais uma vez com seu grande coração, e amor pelas pessoas...fico imaginando como Ele se alegra em ver que tem um representante tão especial por aqui, ensinando que o que mais vale é o amor.

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