13.1.10

BARGANHA NOSSA DE CADA DIA



Pr. David, dando continuidade.


Me diga uma coisa, com o advento do novo testamento, o Evangelho apresentado por Jesus, ao meu ver, muitas vezes se mostra absolutamente conflitante com o Antigo Testamento.

Deixe-me ser claro para que não haja dupla interpretação com o que vou dizer.


No antigo testamento, havia a expressão “tem que ....” ou seja, para mostrar a sua aliança com Deus, era necessário “ter que fazer algo”, seja um sacrifício, seja guardar o sábado, seja dizimar etc etc etc.

No antigo testamento éramos servos, no entanto, Jesus nos apresenta o novo testamento dizendo que não mais somos servos. No entanto, não deixamos de cometer as antigas praticas do “sacrifício” à Deus, quando na verdade, o evangelho da graça nos mostra que nada precisamos fazer para que Deus nos ame/abençoe.


Como bem observou Lutero ao chocar-se com o evangelho segundo Tiago, as obras é uma conseqüência da Fé verdadeira de que Deus nos ama. Ed René Kivitz ao concordar com isso diz que, se bastasse a Obra para sermos salvos, chegaríamos ao céu exigindo que os portões se abrisse para nós, pois somos dignos em razão de tudo aquilo que “EU” fiz, quando na verdade, somos salvos em virtude exclusivamente, ao meu ver, do sangue derramado na cruz.

Ou seja, mesmo após o evangelho segundo Jesus, ainda vivemos em uma sociedade que tenta barganhar com Deus, como se ele fosse um ídolo grego (palavras fortes, eu sei) pois “preciso dar à ele algo, para receber dele algo”. Se eu não for a igreja ao domingo, estarei longe de Deus – mesmo Jesus já ter dito que o templo não era aquele de pedra, erguido por homens.

Ainda se aplica literalmente Malaquias 3, 8 ao justificar o Dízimo, no entanto, segundo o Autor de Hebreus, ainda vivemos sob a lei de Moises?

Minha conclusão é aquela que já a muito venho lhe dizendo, o plano da salvação é “Simples”, no entanto, aparentemente nós homens precisamos dificultar para que o “ser salvo” se torne ainda mais glorioso do que já o é.

Certamente, que ainda dou dízimo, mas não porque sigo a lei de Moises, mas a de Cristo. Quando eu me converti, ou seja, permiti que meu espírito e o espírito de Deus se tornassem um só espírito (ainda que paulatinamente, gradualmente) eu compreendi que o ato de dizimar é uma resposta ao Amor de Deus por mim, haja vista que pela Graça, ele me tornou uma pessoa mais generosa e apta a contribuir para com terceiros, o que inclui a igreja (instituição).


Querido amigo,

Inicio esta resposta com uma declaração de Lutero: "O Novo Testamento sempre esteve contido no Antigo, mas foi Cristo quem o desabrochou!".
Como você conversou comigo há alguns dias: "Sim, realmente!". A salvação pela Fé em Cristo é simples, misteriosa, e confortante. O problema do homem é o ídolo de si mesmo que, dificilmente este o esmiúça. É venerado cada vez que põe uma obra como lente para "confiar na Graça". Novamente Lutero: "Todo pecado principia na adoração ao ego".


Por isto, entendo que a mensagem do Antigo Testamento foi: "Faça assim! Não questione. Eu sou Deus, tenho visto como vocês não conhecem nada de mim e da vida. A desobediência é ainda confortável a vocês. Portanto, pelo teu bem ordeno: observe estas práticas pois apontam para a Redenção de vocês! (Cristo)".

Quem entendeu a Lei como apontamento ao Plano amoroso de Deus, provou Graça mesmo em tempos da Lei (Como o caso de Davi). Quem tomou a Lei e a venerou, fez dela ídolo para si. Por isto, o Evangelho é escandalosamente oposto à rigidez da observância da Lei. O Espírito da Lei não fora observado, somente a "letra da Lei", que apontava para o pecado.

Quanto ao modo "judaico-evangélico-pseudo-cristão" de pautar a observância da entrega dos dízimos em Malaquias, é pinçar um texto para justificar uma "lei" convencionada entre evangélicos: "Precisamos garantir as entradas, e este texto é incisivo. Nenhum outro na Bíblia é tão inquietante quanto este".

Agora, pouco se observa que na Nova Aliança, a "entrega" deve ser em amor, e quando isto acontece, o cristão faz como Barnabé, toma suas posses vende e entrega para distribuição entre os irmãos. Do contrário ao gesto consciente em amor, tudo é "mentira" e tentativa de enganar o Espírito de Deus, e isto gera morte (Ananias e Safira).

Quando li sua declaração:


"Ou seja, mesmo após o evangelho segundo Jesus, ainda vivemos em uma sociedade que tenta barganhar com Deus, como se ele fosse um ídolo grego (palavras fortes, eu sei) pois “preciso dar à ele algo, para receber dele algo”. Se eu não for a igreja ao domingo, estarei longe de Deus – mesmo Jesus já ter dito que o templo não era aquele de pedra, erguido por homens".

Lembrei-me do que Brennan Manning disse sobre a motivação latente do cristão-legalista:


"Quando vemos Deus desta forma sentimo-nos compelidos a nos envolver em alguma espécie de mágica para aplacá-lo. A adoração de domingo torna-se um seguro supersticioso contra os seus caprichos" ('O Evangelho Maltrapilho', pág. 39).
 
Às vezes os poetas - como Fernando Pessoa, captam o que os religiosos empreendem por toda vida:

"Sejamos simples e calmos,


Como os regatos e as árvores,


E Deus amar-nos-á fazendo de nós


Belos como as árvores e os regatos,


E dar-nos-á verdor na sua primavera,


E um rio aonde ir ter quando acabemos!".
(Alberto Caeiro - O guardador de rebanhos)

Espero que este papo tenha sido cristalino e edificante!

um forte abraço,

David

11.01.10






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