7.2.10

AOS EVANGÉLICOS ESCANDALIZADOS


Há algum tempo que, depois de ter provado singularidades provocadas pela igreja evangélica, pessoas me questionam sobre "igrejas e evangélicos" de hoje. Respondo às vezes de modo emotivo. Porque é impossível não reviver algumas situações. Mas quando penso na coragem que muitos têm em perguntar, eu me preocupo. Pois, é uma "coragem" que não serve pra nada. Como aquela da criança que ao assistir Indiana Jones, deseja sumir no mundo procurando aventuras, mas se ao chegar em casa ver que e a mãe não deixou a chave, tendo que esperar dez minutos no quintal de fora, bota a boca pra chorar e reclama por ter nascido.

Portanto, se alguém desejar conversar sobre o mal-estar provocado por seu meio "des-evangélico", saiba que ninguém se cura com curiosidade. Saber quantos mais foram feridos, e como tudo aconteceu, não produz saúde em ninguém. Pelo contrário, é mais fácil você ser atraído pela doença dos outros do que pela cura de poucos.

A pergunta que me fazem é: "Como você superou?". Se superar é uma aminésia, uma espécie de "coronhada espiritual na cabeça", que faz o sujeito acordar perguntando onde está e o que aconteceu, eu respondo: "Não superei!". Mas se superar é olhar para os que um dia se chamavam meus amigos, mentores, pastores, e agregados, com o olhar de um homem que entende que tanto eu aqui como eles ali, somos todos moribundos que precisam todos os dias confessar seus pecados, então estou superando. E preciso continuar neste processo... Não conheço um outro caminho pacificador para quem está ferido.

O conselho que dou pra um crente escandalizado é: "Sofra este velório!". Sim. Se você ficar como muitos, procurando vídeos no Youtube de homens que condenam o mundo evangélico, lendo textos em pencas, e ouvindo músicas de uma pequena minoria que se presta a falar contra - você obrigatoriamente entrará num túnel de trânsito engarrafado, e temo que você lá dentro se sufoque com a fumaça do excesso de veículos, ou que tudo aquilo se alague com você dentro!

Portanto, chore porque você foi enganado. Pranteie se sofreu descaso e indiferença. Agora, se houver coragem para seguir Jesus Cristo, perdoe-os! A resposta que nosso Senhor deu para uma investida: "E quanto a ele, Senhor?" - foi: "Que te importa o que tenho no coração em relação a Ele? Quanto a você Pedro, segue-me!".

Sinto por pessoas que se ferem, e saem de uma porta e adentram outra. Não precisa muita sensibilidade para concluir que tal pessoa se ferirá novamente. A razão de termos tantas portas abertas com a placa "Igreja", é justamente o descontentamento aqui e ali. Num quarteirão você pode ter cinco templos evangélicos aparentemente diferentes, todos dizendo a mesma coisa, cantarolando  as mesmas músicas, e alegrando-se quando uma pessoa sai da porta ao lado e adentra a sua. E, o que assiste, reaje com enrustida empáfia: "Que Deus tenha miserórdia desta situação!". Morrendo de inveja por que a escolha não foi para sua confraria.

Não incentivo você sair de uma igreja e entrar em outra se tua vida não for segundo a espiritualidade de Cristo, "sem lugar para reclinar a cabeça", e, "Entre no teu quarto e fecha a porta, e fala com teu Pai que te vê em secreto". Se você quiser sair de uma igreja, saia! Não fique ali tornando-se fermento. Pois onde há um ajuntamento, também há pessoas com fé singela. Mas ao sair, que a sua entrada seja a íntima do teu quarto - recôndito com Deus - e ali ore, não segundo o que aprendeu ouvindo em cultos, mas ore como nosso Mestre nos ensinou: "Pai nosso...", e não "Meu Pai, sou teu único filho". Pois o Pai celeste faz com o sol nasça sobre "justos e injustos", dá sua chuva a este como àquele.

Ouço semanalmente: "O culto me cansa, não tenho desejo em ir". Esta fala é típica do paganismo-evangélico, onde ir ao culto é, primeiro: Comparecer diante de Deus. Segundo: Dizer aos demais, "Continuo vindo, hein? Não me rotulem". A neurose é tanta, que ninguém pensa na independente fluência divina sobre a confissão de coração, como foi com o eunuco batizado por Filipe (Atos 8:26). Este, ouviu o Evangelho, creu, deu testemunho público pelo batismo, e seguiu seu rumo enquanto Filipe foi levado por Deus para outra extremidade geográfica. Por que? Simples, "o evangelho é o poder de Deus pra salvação" - uma vez dentro, tem sua eficácia independente de qualquer esforço humano. Justamente para que ninguém se glorie! Agora, quem não crê no poder transformador do Evangelho, vive esta cansativa procissão semanal para sofrer a "santa metamorfose em fascículos".

"As mensagens são sempre as mesmas..." - Sim, elas são. Porque a boca fala do que está cheio o coração. Como o Evangelho significa "Boas notícias de Salvação" - oriundo da verdade que Jesus Cristo está vivo - não tem nada a ver com o "movimento evangélico", que é um período sincretista religioso arcaico, em sua maioria composta por pessoas que crescem no desfavor social e existencial, e encontram neste movimento uma causa para defender, gritar, julgar quem não faz parte - a Verdade do Amor que há no Evangelho, não coaduna com o odre velho, o tecido roto deste ajuntamento de homens que "trocam a imagem de Deus por seus ídolos". Neste meio, a verdade da ressurreição virou boato.

Se no que diz respeito a comunhão você não confia em mais ninguém, comece pelo menos confiando em você! Sua decisão de seguir Jesus é verdadeira? Quando ora, crê na Ressurreição do seu interlocutor, e que o Céu não é aquele pintado na Capela Cistina? Quando medita nas Palavras de Cristo, crê que ingerindo-as corre o sério risco de não ser mais o mesmo?

Do contrário, "caso a luz que há em ti sejam trevas, que grandes trevas serão!".

Campinas, 7 de Fevereiro de 2010.

2 comentários:

  1. Wagner Mello07 fevereiro, 2010

    Providencial!
    um abraço,

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  2. Identifico-me plenamente com este texto. Sinto que reflete a maturidade de quem já passou por frustrações eclesiásticas, mas que decidiu olhar para o Deus da Igreja de Cristo e não para a igreja instituição humana. Que Deus nos dê graça para trilharmos sempre o caminho do perdão, graça, amor e comunhão. Afinal, somos todos humanos, igualmente falíveis.
    Parabéns David, por mais uma reflexão abençoadora.

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