28.9.08

SURJA EM MINHA ESQUINA!


Toma-me. Pois já não sei mais me entregar
Do contrário, eu já teria feito.
Encontra-me. Porque há muito me perdi bem dentro de mim.
E, cura-me. Não necessito de nada mais além...

Me calei. Pois não direi o que não tenho
Meu silêncio é alto, nele encontro muitos de mim
Porém, já estou cansado de todos eles...
Apareça a mim! Surja na minha esquina, para que minha rua não seja longa demais esta noite.

Creio em ti. Já não sei deixar de aceitá-lo.
Tu me criaste para ti, e eu vou achá-lo, custe isto todas as angústias.
Insistente eu sou, é meu jeito de permanecer vivo.
Sopra em minhas narinas do teu fôlego, porque cansei.

Vivo o meu hoje. Extenso, profundo, e ignorante.
Minha vida é uma pergunta. Não quero as respostas prontas...
Quando não vi o azul, me encolhi na sombra mais próxima
Sombra de morte é meu eu sem teu sol.

Consigo ver o início da rua, e mais ali, onde ela termina.
Quantas portas eu bati? Quando tapei o sol em minha fronte? Qual banco me deu descanso?
Surja na próxima esquina, e surpreenda-me de modo que eu não veja onde ela termina...
Saudoso é o início, angustiante é o meio.

Te peço, não me aceites como me vejo
Como me vês? Ah, faz-me sentir...
Sou todo ambiguidade, por isto quero ser achado
Não procuro outra rua, apenas imploro para que surja em minha esquina.

₢ Direitos reservados ao autor. David de Mello Junior.

26.9.08

MINHA CARÊNCIA

Serra do Japí. 2007.

Às vezes vem se avolumando enquanto não penso. Simplesmente, o magma parece procurar um duto, e não o encontrando, se revolve bem lá dentro. Onde? Não sei. Apenas sei que é muito de dentro e não posso conter. Acontece.

Surge nisto a vontade, eu não a crio, é da minha natureza encontrar-me assim, procuro traduzir como uma fome, ou sede; já houve momentos de simplesmente achar que ficar parado olhando o azul era a melhor coisa, ou até mesmo suspirar de modo que a palavra mais completa pra este caso seja dita. Mas no indefinível mora a continuidade.

Eu tenho sede. Como a pedra escaldante pelo sol recebe o respingo da quebrada d'água, este sou eu. Sou atingido por pouca quantidade do mar que rebate. Procuro a torrente que me trará toda a sensação de envolvimento.

Eu tenho fome. Os sentidos se perdem na fraqueza, e na passagem somente há migalhas.

Tenho solidão, pois qualquer companhia tem um "Até logo!" que instaura ausência.

Procuro a não despedida. A chegada permanente ou minha ida em companhia. Pois fora disto, o que há é incompletude.

"Tu nos criastes para Ti, e inquieta está nossa alma enquanto não repousa em Ti".

17.9.08

O FOLHETO EVANGELÍSTICO

Vou descrever a cadeira que estou assentado: Seus quatro pés são de um formato quadrado, o assento é de um tecido grosso, como veludo; o encosto chega até os meus ombros com uma leve inclinação para trás. É da cor tabaco, com folhas de madeira entrelaçadas enfeitando-a como um cesto.

Agora, vou descrever a sensação de usá-la: Me dá firmeza. Não fica escorregando como as de um escritório, não me canso com este assento. Sua altura deixa meus braços confortáveis sobre a escrivaninha que uso.
Sentiu? Ah, eu já esperava... Você só consegue imaginar. Por mais que eu tente descrever, você não pode sentir o que sinto.

Posso descrever a você o sabor do "pintado na brasa" que comi à beira do rio Piracicaba, como é gostoso o perfume Opium que uso, e como é calçar este tênis Puma que dá a sensação de andar de meias pela casa. Porém, por mais que eu tente não consigo transferir a experiência de sentir a você.
Quando não conseguimos sentir o que outra pessoa diz, só nos resta imaginar.

Imagine ser "o melhor amigo" de uma pessoa importante.
Imagine um prêmio como: "No período de um ano, tudo o que acontecer com você o fará uma grande pessoa, e suas decisões lhe dará o melhor dos futuros".
Já imaginou ter isto garantido pro resto da vida?
Imagine o pavor sair da vida porque todos os dias você é amado, procurado por amor, não há mais razão para o medo, porque você é lembrado para receber o que há de melhor!
Já imaginou que um "sim", do coração, trás tudo isto à realidade?

Deus deseja que você viva a realidade de receber tudo do Seu amor. Ele não julga seus atos, não pede coisas estranhas, apenas responde ao seu coração. Basta apenas crer que Jesus Cristo é o Filho de Deus, e confessá-lo como o único em sua vida, e você não viverá a imaginação, mas toda realidade do que é bom. Quando cremos e damos espaço, tudo é por conta dele!
Basta uma oração como esta:
"Senhor Jesus, eu creio em ti e o recebo em minha vida. Creio que podes me dar a Vida Eterna que existe somente em teu nome. Envolva-me com a segurança do teu amor. Peço perdão pelos meus pecados para iniciar esta caminhada contigo. Ensina-me a viver e jamais trocá-lo. Em teu nome faço esta oração. Amém!".
David, 17 de Setembro - 12:30.


13.9.08

REVOLTA

REVOLTA
Vinícius de Moraes

Alma que sofres pavorosamente
A dor de seres privilegiada
Abandona o teu pranto, sê contente
Antes que o horror da solidão te invada.

Deixa que a vida te possua ardente
Ó alma supremamente desgraçada.
Abandona, águia, a inóspita morada
Vem rastejar no chão como a serpente.

De que te vale o espaço se te cansa?
Quanto mais sobes mais o espaço avança...
Desce ao chão, águia audaz, que a noite é fria.
Volta, ó alma, ao lugar de onde partiste

O mundo é bom, o espaço é muito triste...
Talvez tu possas ser feliz um dia.

(As Coisas do Alto. São Paulo : Companhia das Letras, 1993, p. 65)