30.11.08
O QUE ME FAZ BEM...
AUTO BIOGRAFIA EM CONSTRUÇÃO
O QUE TE FAZ BEM...
Até hoje me perco em supermercados...
Já pensou hoje sobre o amor de Deus? É natural para um pai procurar seu filho nos corredores de um mercado, e tudo o que ele deseja falar é “Agora você está comigo”, e lá, depois de anos, contar como foi gostoso o encontro. Como ainda nos permitimos pensar que um pecado é suficientemente poderoso para inibir Deus de nos procurar? Que abandono dos homens é o abandono de Deus? Nenhum!
Num acampamento que fizemos com o tema “Na Rocha”, todos os dias os adolescentes cantavam uma música com a frase “Se perco, me encontras...”. Alguns cantavam mascando chicletes e de vez em quando conversavam alguma coisa engraçada com quem estava ao lado. Mas outros ao cantarem abaixavam a cabeça e choravam desajeitados, alguns ficavam envolvidos numa "esfera de espanto", tirando o boné e chorando como se estivessem há anos sem serem amados.
É isto que o amor de nosso Deus faz, traz espanto porque não achamos que merecemos um amor insistente.
Com minha razão limitada cheguei a esta conclusão do amor de Deus. Imagine Ele, que realmente sabe traduzir seu amor por nós em atitudes todos os dias, como não se sente em relação a nós?
Deus é amor (1 Jo 4:1). Nada do que fizermos muda quem Ele é. Não podemos permitir que a indignação, ou o desejo exacerbado de favorecimento pessoal, nos proíba de ver que “Ele faz nascer o seu sol sobre maus e bons” (Mt 5:45).
Se sentir-se perdido, o Pai está à sua procura por entre os corredores do mercado. Pare tudo, converse de coração com Deus, prove da experiência de ser amado incondicionalmente!
Com amor,
David Junior (Fevereiro de 2008)
"Querido Jesus,
Sabe Jesus, preciso me abrir contigo por que ainda tenho dificuldade de me expor às pessoas. Tenho a sensação que, se eu me assentar e começar a conversar os meus conflitos, não me faltarão ouvidos; mas as respostas serão sempre as mesmas, e, em sua maioria jargões, que no fundo são uma satisfação latente pela minha fragilidade.
Não tenho medo de dizer isto, também não me sinto culpado por sentir-me assim. Sinto necessidade de conversar com o Senhor, pois li nos Salmos várias orações de homens, até melhores que eu, que pensavam que estivesses dormindo.
Eu entendo Jesus que preciso falar com alguém, mas vivo num mundo que não foi inventado por você. Aqui as coisas são diferentes. Mesmo no meio daqueles que cantam sua história, e se reúnem com seu nome, as conversas não tem gerado em mim confiança de que são ouvidos de Cristo para meus momentos de crise.
Jesus, se eu chamar alguém pra conversar sobre minha tristeza, tenho certeza que trocarei de peso. Deixarei a individualidade e a solidão, e tomarei pra mim a “reprovação”.
Senhor, preciso te dizer a verdade: Não sei transformar frases de efeito em atitudes. Já tentei tantas vezes, mas não consegui. Aqueles provérbios bonitos que todos têm para momentos como este, não brotam tão facilmente assim.
Às vezes sinto pressão no peito, e pontadas no abdômem. Sei que isto não é normal, mas a impressão que tenho é que tenho que conviver com isto pelo menos um período até chegar a cura. O Senhor foi homem de dores e sabe o que é o sofrer...
Jesus, sempre ouvi, desde minha infância que você sofreu demais. Eu leio e admiro sua história, porque foi rejeitado, mesmo sendo quem é. Eu não sou quem você é, mas eu estou me esforçando nesta vida pra tornar a ser. E sei que você vai me favorecer.
Se eu fosse exatamente como você é, mesmo assim seria reprovado. Eu não gosto de viver aqui na avaliação constante que fazem da minha sinceridade Senhor...
Você tem alguma solução pra este momento?
Meus livros não me ajudam.
Minha agenda telefônica não me inspira confiança.
E o que mais me atemoriza é que minha sinceridade é um escândalo.
Sei que o Senhor ouve minha oração e pode me ajudar.
Eu gentilmente me disponho a ouvir tua voz. Não quero ter sensações como muitos dizem ter para negar a humanidade e a carência de você. Eu quero sim, ter uma vida que flui por ser resposta da tua voz.
Confio no que você diz. Basta uma palavra tua e meu corpo estará descansado, minha mente serena e minhas emoções apaziguadas.
Estes dias tornaram-se especiais. Estou aprendendo o valor da vida que busca a Deus com a intensidade da entrega, a identificar o que realmente tem valor e o que é trivial e por muito tempo pensei que fosse reluzente.
Aceitar um período de sofrimento não quer dizer que você está "jogando a toalha", sendo pessimista. Muitas vezes não aceitamos situações, não é porque somos "fortes e corajosos", mas sim porque não cremos que Deus vive aqui neste momento, sente o cheiro e vê o crepúsculo, e também anseia pela virada do dia.
É na aceitação que obtemos o silêncio necessário para crescer na caminhada com Deus. Para que Deus seja pra dentro de nós, o nosso Deus, a alma deve se aquietar. "Aquietai-vos e sabei que Eu Sou Deus" (Sl 46:10).
É no sofrimento que nos tornamos coerentes. Paramos de cantar a música que fala sobre Deus, e passamos a crescer na confiança. Paramos de dizer com os lábios, para viver de coração. É nele que deixamos de ser meninos, e buscamos a idade adulta da vida.
Durante o sofrimento você ou crê que Deus é quem Ele é, ou então toda fé, pensamento, paixão, e ritual foi simplesmente "mais um céu pintado no teto da capela", que olhando é bonito, mas não faz sentido querer. O querer saudável para a vida deve ser na convicção de conhecer a Deus, no amor, e no anseio de exercer misericórdia.
Este querer habita o coração de qualquer um, é gerado por Deus. Porém a aceitação dele é difícil, porque surgimos e crescemos num mundo onde a mania de sentir-se bem é viciosa.
Certamente Deus sabe que sofremos, o importante é aceitar que na dor saímos do ponto de partida, damos a volta, e reconhecemos que tudo antes não fora partida para conhecê-Lo.
23.11.08
HOJE É DOMINGO. NÃO VÁ À IGREJA!
Num domingo de clima indeciso resolvi fazer uma breve caminhada. Quando estava no meio do Cambuí, em Campinas, uma chuva torrencial me surpreendeu. Tive que rapidamente me esconder no posto de combustível - o mais badalado do centro: playboys, carrões com som alto, mulheres exacerbadamente enfeitadas; e, quando olhei pra trás, uma loja de conveniência que me deixou constrangido por estar na frente, por tanta bebida alcoólica. Não aguentei a impressão que causaria, estava com muita sede e levantei-me do chão para comprar um refrigerante.
- Hei tio, você me arruma dez centavos? - um garotinho bonito, moreninho, cabelos grandes, e roupas sujas. Quase respondi a ele: "Sem chance, estou só com meu cartão de débito!" - mas o bom siso me levou a devolver a pergunta:
- O que você quer?
- O que você vai comprar aí?
- Vou comprar uma coca-cola...
- Por mim tudo bem, eu aceito uma coca também!
Olhos desconfiados nos acompanharam até a geladeira. No caixa, ele não parava de perguntar o que era cada coisa para a impaciente mulher. Dei a lata a ele, e coloquei a mão em seu ombro. Ele abriu a mochila e enfiou a lata gelada lá dentro:
- Hei rapaz, você vai guardar a lata geladinha?
- Vou, preciso levá-la pra casa...
Eu engolia gelado, mas naquela hora nada molhava minha garganta quando senti que aquele pequeno garoto podia quebrar a pedreira do meu coração desconfiado, viciado em perigos, religioso, e culpado por não estar dentro da igreja naquele horário. Eu não estava ali por acaso. Este sentimento acelerou meu coração. Quando assentamos no chão, ele me surpreendeu mais uma vez:
- Me ajude a contar quanto tem? Eu não sei contar dinheiro - disse esparramando um montão de moedas.
Pensei, "Que inocência. Eu poderia roubá-lo!". Logo fui invadido por grande tristeza. Sim! Fiquei muito triste comigo. Pois quando eles vêm à minha porta, eu subo o vidro, vejo se não há objeto que chame atenção no banco ao lado. Desligo o som pra não atraí-lo. Meu Deus, eu tinha que contar moedas de um pedinte que não liga pra valores... Será que ali eu estava ouvindo alguma mensagem que num banco de igreja não ouviria?
- Tem vinte e oito reais!
- Quanto falta pra quarenta, tio?
- Quem disse pra você levar quarenta? - perguntei raivoso, pensando num adulto mandão sobre crianças na proximidade.
- Ninguém! É que hoje, só eu pude vir pedir. Meus irmãos ficaram com minha mãe, doente. Aí pensei em levar um tanto que ajudasse por todos. Bom, "brigado" por me ajudar. Tchau!
Tudo o que sei é que seu nome era Mateus, e tinha dez anos. Eu, com um ridículo sentimento de culpa por não estar na igreja como todos, tive uma experiência quebrantadora em pleno bairro de ostentação. Será que Deus estava ali? Claro! A Bíblia diz que Ele "habita com o abatido", e não em templos feitos por mãos humanas. Não quero incentivar quem tem amarguras. Quero "cutucar" quem bate no peito por ir sempre!
Naquela tarde, voltei pra casa pensando: "Porque aos domingos gostamos de colocar boas roupas e ir em igrejas com boas bandas, e pastores que falam bem, e nossa avaliação é sempre baseado no quanto nosso emocional é envolvido?".
Orei pedindo perdão ao meu Deus. Pois Ele se faz presente com os pobres, os abatidos, os tristes... Com ricos, com afinados, bem vestidos também. Não em "mantras-gospel", oratórias gritadas, pedantismo "no grego e do hebraico isso é...", etc.
Mas por que procuramos estar com estes e não com aqueles para prestar culto? É porque "cultuar" pra muitos de nós ainda não é celebrar a vida, a despeito do que passamos. Ir ao culto, é manter a "santa rotina pra alívio de consciência". Não importando se o coração tornou-se mais de Cristo e menos do ego.
O Mateus, mostrou pra mim, que se eu estivesse num culto naquele domingo, na terça-feira pela manhã já nem me lembraria dos doentes citados em oração, nem da mensagem pregada. Eu precisava de um choque que me fizesse amar. O acontecido foi em fevereiro e não sai do meu coração que aquele encontro fora "o copo d'água fresca que servi a um pequenino" (Mt 10:42).
Busque a Deus independente dos lugares, e você não precisará esperar os domingos chegarem. Pois a vida é o espaço que Ele deseja se revelar a você. Não somente em dias e horários religiosos.
Hoje é domingo, e daí? Poderia ser segunda...
com carinho,