28.8.08

MEU CAMINHÃO DE MUDANÇAS


Nasci no dia 08 de dezembro de 1979. Sou o caçula. Tenho vaga lembrança de Andradina, minha cidade natal, de onde saí com um ano e meio. Carrego alguns flashes, meus tombos pelo quintal, no colo de um ou outro parente. Sim, eu tenho boa memória!

Quando estava com 2 anos estávamos em Americana. Meu pai vinha trabalhar no Banco Itaú em Campinas, e instalou a família aqui perto. As lembranças dali são ensolaradas, vizinhos simpáticos, brincadeiras no quintal, e muitos, mas muitos desenhos pelas paredes. Foi em Americana que minha mãe pensou que eu seria um desenhista. Eu andava com um giz de cêra verde na mão. Como meu bicho preferido era o pato, e desejava ter um, o desenhei em cada parede da casa, grande ou pequeno, eles estiveram ali comigo!

Não demorou muito estávamos morando aqui em Campinas. Primeiro no Aurocam, depois no Aurélia e Vila Teixeira, atrás da escola "Sophia Velter Salgado", onde estudei até a oitava série, e por dezessete anos moramos na Vila Itália, um pouco só pra cima de onde estávamos. É uma vila estreita, com duas ruas compridas paralelas. A maior parte da minha história está ali.


Foi ali, em 1986 que comecei a abrir os olhos pra vida. Quando mudamos para aquela casa, senti o que era uma mudança. A casa tinha uma sacada sobre a garagem. Era antiga. Devia ter uns 30 anos. Um terreno estreito, mas que me proporcionou usar toda criatividade: passava as manhãs criando coisas, serrando, martelando, pendurando pelo quintal - ali meus pais pensaram que eu seria um engenheiro devido ao gosto pelo desenho mais a "mão na massa".


Em 1987 fui para a escola. Só soube que ia quando chegou o dia. Sempre fui muito distraído. Não me atentava aos comentários que faziam sobre qualquer assunto. Sempre vivi dentro do meu mundo. Ameaçava chover naquela manhã, minha mãe e minha irmã levaram-me para a escola estadual que havia no bairro. Fiquei no pátio junto de minha mãe enquanto a Débora foi ver em qual sala eu iria.

Entrei, me assentei, e na minha frente estava um alemãozinho que mostrava como assobiava por entre os dentes. Era o Juliano Laitz. Estudamos juntos até a sexta série. Hoje é um policial militar.


Minha primeira cartilha foi a "Caminho Suave". Minha primeira professora chamava-se Eidí. Era uma mulher grande, com olhos arregalados, voz grave e alta. Nos ameaçava dizendo que iria chamar sua filha lutadora de caratê. (Nossa, quanto medo bobo eu tive...).


Em todos os anos eu fiquei de recuperação. Achava normal. "Pra quê chorar no meio do ano se no final uma semaninha resolve?". Assim fui.


Na sexta série, 1992, a coisa ficou feia pra o meu lado! Descobri o que era adolescência.

Quando vi, já estava nela e não tinha como sair. Conheci o Daniel, Érik, Walace, Juliano Basso (Japonês), fazíamos campeonato de "Futebol de Botão", e jogávamos basquete em frente de casa - ouvia deles o placar dos times, a carteirinha do clube que a família frequentava, a música do momento, a menina que eles já tinham beijado, a discoteca que frequentavam, o tênis que "caras bacanas" usavam, etc. - e eu, não sabia e não tinha nada disto.

Procurei andar com eles. Me angustiei. Não conseguia acompanhá-los, mas como eram os caras mais bacanas do bairro, "eu tinha" que andar com eles. Resultado? Repeti a sexta série...


Em 1993, minha paixão era bicicleta. Eu desmontava, pintava, colocava novos assessórios, e desfilava com ela pelo bairro. Mas ainda, eu não era do tipo que escolhiam logo quando montavam os times. Era facilmente apelidado. Tinha vontade de chorar na rua - algumas vezes não me contive - e sobre isto me rotularam. Resolvi andar com outra turma, que não fosse da minha rua nem da escola. Infelizmente, eles moravam próximos e eu não pude mudar de turma. Fiquei ali.


Nesta época tocava "For your babies" do Simply Red, "Must been love" do Roxette, "Always" do Bon Jovi - gostava destas e de outras músicas, mas me sentia culpado quando ouvia.

Durante a semana lutava para me enquadrar numa turma, e a partir da sexta-feira começava a rotina de ir à igreja. Era outro lugar onde não me encaixava, mas carregava latente a obrigação de me enquadrar.



Em 1996 entrei no curso técnico de mecatrônica, na ETEC. Fui porque um amigo da igreja entrara, e disse-me que era pra quem quisesse mecher com robótica. Foram os 3 anos perdidos. Hoje, nem me lembro como calcular um resistor, ou quanto tempo demora pra esquentar um ferro de solda!

Foi neste tempo que descobri o quanto gostava de shopping-center. Era época de inauguração do Galleria, e ali fui pela primeira vez ao cinema assistir "Independence Day". Acredita?! (Nem eu). Quando estava dentro daquela sala pensei: "O que tem aqui que as pessoas da Assembléia de Deus dizem ser do diabo?".


Eu queria formar uma banda de rock na igreja. Não pude. Quis então fazer estudo bíblico com os meus amigos músicos. Fui vetado. Então simplesmente saí daquele lugar e nunca mais voltei.


Foi assim que cheguei na Igreja do Nazareno Central de Campinas. Ali pude: cantar num coral de negros (Kadmiel, acredita?), montar minha banda de hard rock, tocar nos encontros dos adolescentes, e ter uma turma. Por isto, na minha adolescência eu me encontrei naquele lugar.


Até então eu só tinha lido uma ficção do Frank Peretti chamado "Porta da garganta do dragão" e uma coletânia da Clarice Lispector, mas não me causaram nada. Exceto "A Bíblia em quadrinhos" da Editora Betânia, que me roubaram horas entre os 11 aos 14 anos, e "Histórias do Oeste".


Mas ao ouvir aqui e ali as histórias cristãs, fui a uma livraria e comprei a biografia de George Müller. Não demorou muito e eu estava com a biografia que mais me influenciou, "John Wesley: Sua vida e obra", e encerrei 1998 com "Conhecimento Espiritual" do Watchman Nee.


Entrei no seminário teológico em 1999. Neste tempo já estava totalmente tomado pela leitura e escrita. Escrevia o dia todo. Troquei a noite pelo dia por causa da leitura, e mais uma vez, tive a certeza que vivia num mundo diferente de qualquer outro cara de 19 anos.

Li "Heróis da Fé" de Orlando Boyer, "Vitória sobre a tentação" de Bruce Wilkinson, "Tudo se resume no amor" sobre Charles Finney, li a "Perfeição Cristã" de John Wesley, "Sermões Evangelísticos" e "Os Puritanos" de D. Martyn Lloyd-Jones, e fiquei uns 2 anos imerso na literatura deste autor. Ele me influenciou em como ser um pregador. Li seus Comentários de Romanos (não todos), mas o bastante para absorver do compromisso puritano do exame da Bíblia.


Minha chatice e exigência com os pregadores dos meus dias se deve a ele e ao livro "Lições aos meus alunos" do grande Charles Spurgeon. Já meu levantar e sair, mesmo ficando por respeito, diante do raciocínio "des-bíblico" se deve ao contato com "Cristianismo Puro e Simples" do C.S.Lewis.


Em 2003 descobri Rubem Alves. Li "Um céu numa flor silvestre: a beleza em todas as coisas", e percebi que tinha necessidade de mudar minha busca por conformidade teológica. Neste mesmo ano, mudei minha impressão sobre o Caio Fábio, o qual gostaria de ter encontrado mais vezes para um abraço e ouvir seu jeito manso.


Quanto mais eu mudo, mais convicto de mim fico. Hoje, eu vejo o quanto "mudança" faz parte de mim. E que "não se enquadrar" faz parte do que sou.


Sinto que o mundo é quadrado, e eu sou redondo, ou o inverso.


Sobretudo, eis as minhas convicções:

Nasci fruto do amor. Meu nome significa "Amado", e minha extensão é conhecer o Deus-Amor!




David, 28/08/08.

27.8.08

SOBRE DEUS

Sobre Deus
Rubem Alves

Alguém disse que gosta das coisas que escrevo, mas não gosta do que penso sobre Deus. Não se aflijam. Nossos pensamentos sobre Deus não fazem a menor diferença. Nós nos afligimos com o que os outros pensam sobre nós. Pois que lhes digo que Deus não dá a mínima. Ele é como uma fonte de água cristalina. Através dos séculos os homens tem sujado essa fonte com seus malcheirosos excrementos intelectuais. Disseram que ele tem uma câmara de torturas chamada inferno onde coloca aqueles que lhe desobedecem, por toda a eternidade, e ri de felicidade contemplando o sofrimento sem remédio dos infelizes.

Disseram que ele tem prazer em ver o sofrimento dos homens, tanto assim que os homens, com medo, fazem as mais absurdas promessas de sofrimento e autoflagelação para obter o seu favor. Disseram que ele se compraz em ouvir repetições sem fim de rezas, como se ele tivesse memória fraca e a reza precisasse ser repetida constantemente para que ele não se esqueça. Em nome de Deus os que se julgavam possuidores das idéias certas fizeram morrer nas fogueiras milhares de pessoas.

Mas a fonte de água cristalina ignora as indignidades que os homens lhe fizeram. Continua a jorrar água cristalina, indiferente àquilo que os homens pensam dela. Você conhece a estória do galo que cantava para fazer nascer o sol? Pois havia um galo que julgava que o sol nascia porque ele cantava. Toda madrugada batia as asas e proclamava para todas as aves do galinheiro: “Vou cantar para fazer o sol nascer”. Ato contínuo subia no poleiro, cantava e ficava esperando. Aí o sol nascia. E ele então, orgulho, disse: “Eu não disse?”. Aconteceu, entretanto, que num belo dia o galo dormiu demais, perdeu a hora. E quando ele acordou com as risadas das aves, o sol estava brilhando no céu. Foi então que ele aprendeu que o sol nascia de qualquer forma, quer ele cantasse, que não cantasse. A partir desse dia ele começou a dormir em paz, livre da terrível responsabilidade de fazer o sol nascer.

Pois é assim com Deus. Pelo menos é assim que Jesus o descreve. Deus faz o sol nascer sobre maus e bons, e a sua chuva descer sobre justos e injustos. Assim não fiquem aflitos com minhas idéias. Se eu canto não é para fazer nascer o sol. É porque sei que o sol vai nascer independentemente do meu canto. E nem se preocupem com suas idéias. Nossas idéias sobre Deus não fazem a mínima diferença para Ele. Fazem, sim, diferença para nós. Pessoas que tem idéias terríveis sobre Deus não conseguem dormir direito, são mais suscetíveis de ter infartos e são intolerantes. Pessoas que têm idéias mansas sobre Deus dormem melhor, o coração bate tranqüilo e são tolerantes.

Fui ver o mar. Gosto do mar quando a praia está vazia da perturbação humana, Nas tardes, de manhã cedo. A areia lisa, as ondas que quebram sem parar, a espuma, o horizonte sem fim. Que grande mistério é o mar! Que cenários fantásticos estão no seu fundo, longe dos olhos! Para sempre incognoscível! Pense no mar como uma metáfora de Deus. Se tiver dificuldades leia a Cecília Meirales, Mar Absoluto. Faz tempo que, para pensar sobre Deus, eu não leio teólogos; leio os poetas. Pense em Deus como um oceano de vida e bondade que nos cerca. Romain Rolland descrevia seu sentimento religioso como um “sentimento religioso”. Mas o mar, cheio de vida, é incontrolável. Algumas pessoas têm a ilusão que é possível engarrafar Deus. Quem tem Deus engarrafado tem o poder. Como na estória de Aladim e a lâmpada mágica. Nesse Deus eu não acredito. Não tenho respeito por um Deus que se deixa engarrafar. Prefiro o mistério do mar... Algumas pessoas não gostam do que penso sobre Deus porque elas deixam de acreditar que suas garrafas religiosas contenham Deus...
Extraído de www.ricardogondim.com.br em 27/08/08.

25.8.08

SOBRE MINHA MÃE

A murta é uma planta natural em diversos lugares ao longo do Mediterrâneo.

Pode chegar até cinco metros, e se expandir com diversos ramos. Produz um aroma muito agradável, e ainda hoje muitas culturas a usam de modo medicinal; extraem seu óleo.

O Larousse que está ao meu lado, dá a seguinte definição:
"Murta: s.f. (gr. myrton). 1. Arbusto de folhas aromáticas, com ação adstringente e sudorífera, flores brancas e frutos usados para fazer compota".

Adstringir é limitar, comprimir. Quando a planta é adstringente e sudorífera, siginifica que exala sua essência, e pode ser apertada para nos ceder algo mais.

No hebraico a murta é conhecida como "hadassah". Quando os pais sonham com o futuro de um filho, dá um nome que seja anúncio por onde ele passar. Assim aconteceu no exílio hebreu. Nasceu uma mulher e seu nome foi Hadassah. E como os pais queriam que os persas soubessem quem era ela, segundo o costume deu um segundo nome, "Sitar", que significa "estrela".

Os persas estudavam os astros, então, ver alguém com nome "Estrela" provoca admiração, brilha e provoca mistério! Mas para seu povo, Hadassah era o bom perfume, a murta, a planta conhecida e necessária.

Daí vem o significado do nome de minha mãe: Ester.
Ontem, durante a comemoração do seu aniversário tive a idéia de escrever isto.

Quem é ela? "Ela é poesia!".

Dizemos isto quando há beleza, profundidade, vastidão no ser.

Ela sorri fácil, complementa conversas com admiração quando ouve uma verdade, ou responde em modo de conselho sem ser pedante. Assenta-se à mesa somente quando todos já estão servidos. Dificilmente se cansa. Quando conversamos sobre superar conflitos ou bençãos, naturalmente escapam as palavras "...pela misericórdia do Senhor!".

Seu nome é Ester pois meu avô, um metodista aplicado à leitura bíblica, distribuiu nomes bíblicos entre os nove filhos. Ela nasceu numa cidadezinha chamada "Castilho", e cresceu em outra minúscula cidade chamada "Paranápolis", e continuou a vida até os primeiros anos do casamento em "Andradina", onde eu nasci. Não continuou os estudos para dedicar-se aos filhos, mas incentivou meu pai: "Vai você primeiro!".

Aqui escrevo o que gosto de lembrar da minha grande mãe:

Ela foi minha professora de Escola Bíblica Dominical. Quando cursava Teologia, houve um exercício para escrevermos no início da aula a sequência dos livros da Bíblia. Me assustei quando o professor estava em pé ao meu lado vendo a velocidade com que eu escrevia a sequência dos livros: "Vejo que o David Junior frequentou a Escola Dominical, minha gente!". Minha resposta foi: "Não só frequentei, fui desde os seis anos convidado por minha mãe para ajudá-la a preparar as aulas".

Quando eu tinha cinco anos procurei-a e disse: "Quero cantar na igreja!". Escolhi a música para me apresentar, e ela ouvia o LP junto comigo. Me ensinava as palavras, tirava a agulha do disco e cantava comigo. Num culto mandou um bilhetinho pra frente sem que eu soubesse, e foi anunciado que eu iria cantar. Em meio a calafrios, vestindo um conjunto de moleton, subi. Colocaram uma cadeira para me elevar ao púlpito, inflei o pulmão e cantei "Só o amor de Deus é fiel!" (Que na minha mente, a palavra só e sol era a mesma coisa!).

Ela me ensinou a preparar uma horta. Arrumei num matagal em frente nossa casa na Vila Teixeira (Campinas,SP), um terreno para plantar. Ela me levou ao centro da cidade, comprou uma enxada e um regador, me levou para conhecer o Mercadão, e disse: "Escolha três pacotinhos de sementes, e eu te ensino como cultivá-las".

Ela reunia o Wagner a Débora e eu em volta da cama de casal, lia um texto bíblico e orava. Houve dias de lágrimas em seu rosto por dificuldades em casa, mas também houve dias de eu abrir os olhos durante a oração e ficar só olhando seu rosto avermelhado, erguido, orando e orando com destemor.

Foi junto dela que recebi minha primeira resposta de oração: Uma bicicleta azul!

Certa vez liguei e disse que queria cursar Teologia para ser um pastor. Meus pais estavam viajando. Minha mãe pediu-me para retomar o assunto no dia seguinte. Quando novamente toquei no assunto ela disse: "Vai! Faça sua matrícula".

Fui convidado a palestrar num lugar distante. Chegado o dia de viajar notei que ela e meu pai se arrumavam como se eles fossem viajar. Paramos no meio da sala e meu pai orou. Entramos no carro e fomos conversando várias coisas. Quando cheguei no aeroporto, os olhos dela estavam cheio de lágrimas, e com a voz embargada disse:

"Um dia o levei a uma Escola Bíblica de Férias. Você tinha sete anos. Participou de estudos e brincadeiras, e ao final da escola, chamavam nome por nome lá na frente para pegar o certificado, quando chamaram seu nome meu coração disparou, e você foi andando no meio da multidão e não tive a sensação de que ia buscar o certificado, você simplesmente ia... Eu sempre soube que Deus o chamaria para ser um pastor, mas eu nunca te disse isto para que você não o torna-se coagido por minha visão. Hoje viemos ao aeroporto para lhe dizer: Deus é contigo!".

O Livro de Ester na Bíblia, é o único livro que não contém a palavra "Deus". Precisa?

A tradição judaica diz que quando o rei Assuero chamou Ester para ser "a rainha", e ela soube de toda a glória que possuiria, muito inquietou-se pois não se preocupava com as glórias dos impérios.

Ester é um nome para mim de quem tem Deus pelos poros, exala, tem fragrância.
Meu amigo Maurício certa vez disse: "Quando ligo em sua casa, prefiro que sua mãe atenda antes. Ela tem uma voz de 'telefonista do Céu'".

Sitar para os persas,
Hadassah para os hebreus,
Myrta para os gregos,
Mãe, para o Wagner a Débora e eu!

15.8.08

LIRISMO DA CORÇA



Então, surge...
Meu Mistério
Sempre me urge
Por isto, Te quero.

Então flui!

Meu Mistério

Até para o que fui
Por isto, Te quero.

Surge quem sou
Sem mistérios
A Ti: "Eu Sou!".


Urge, meu "Te quero!"
Por Ti Mistério.
Anelo teu: "Te espero".

David Jr. Campinas, 15/08/08.

12.8.08

A MÚSICA MENOS OUVIDA

Há um tempo li que a linda música "Shout to the Lord", da australiana Darlene Zschech (Hillsong) foi cantada desde o casebre do Morro da Rocinha, ao Vaticano, com o Papa e os cardeais em reverência. Numa banquinha de camelô ou na Casa Branca em Washington, ainda é possível ouví-la.
Me pus a pensar: "Qual seria a música menos ouvida hoje?".
Não tenho certeza, mas acho que deve ser uma cantada há mais de 3 mil anos.
Quando Moisés estava para morrer, Deus lhe disse: "Você não entrará na terra prometida guiando este povo, logo morrerá. Estas pessoas logo esquecerão quem Sou, e tudo o que aconteceu durante o período de milagres no deserto. Eu quero que você componha uma música, e cante para os homens cantarem em suas casas aos filhos, e assim vão disseminando uma resposta para os dias de questionamento diante da angústia. Quando se perguntarem: 'Por que sofremos?' - Então esta música responderá!".
"Assim, Moisés, naquele mesmo dia, escreveu este cântico e o ensinou aos filhos de Israel". (Dt 31:22).
Durante a música Moisés fala sobre a vida que tiveram quando obedeciam a Deus, ao ponto de "degustar mel da rocha", "Ele os guiou às alturas como águia faz aos filhotes", "vinho em abundância", - tudo isto em meio ao deserto.
Um amigo judeu me disse certa vez: "Fomos mais felizes no deserto!".
Eu nunca vi ninguém num talk show dizer: "Dedico esta música às pessoas que sofrerão. A poesia desta música, ao cantar, fará o coração ter esperança em meio ao desespero, e voltará os corações a amar a Deus sobre todas as coisas. Esta música que componho, me faz voltar pra Deus, e tenho certeza, que também levará as próximas gerações a amá-lo!".
Ah, artistas religiosos! Que direi de vocês? (Seguro um flyer de um show gospel dizendo: "35,00 área VIP").
"Veio Moisés e falou todas as palavras deste cântico aos ouvidos do povo, ele e Josué, filho de Num. Tendo Moisés falado todas estas palavras a todo o Israel, disse-lhes: Aplicai o coração a todas as palavras que, hoje, testifico entre vós, para que ordeneis a vossos filhos que cuidem de cumprir todas as palavras desta lei. Porque esta palavra não é para vós outros coisa vã; antes, é a vossa vida (...)". (Dt 32:44-46)
Entre uma música e outra existe a faixa do silêncio...
©Direitos Reservados ao autor. David de Mello Junior - 2008.

11.8.08

SOBRE MEU PAI...

Ontem estive com meu pai. Na verdade estive com todos da minha casa, mas o dia era dele.
Meu pai ainda é inspiração.
Quando pequeno, ansiava por sua chegada. Quando o "Jornal Nacional" começava, ele entrava. Com o cenho franzido, olhos se defendendo da luz, e com um assovio brincalhão anunciava sua chegada.
Eu não era de correr pra ele. Respondia com um sorriso, ou alguma coisa típica de criança, como aquelas frases de uma conversa em andamento, sem precisar de introdução.

Há poucos dias quando eu estava triste, muito machucado por "coisas de igreja", ele puxou uma cadeira, cruzou as pernas e pendeu o corpo pra frente, e começou:

"Bom, você já ouviu isto antes. Quando eu me converti, só sentia vontade de fazer uma coisa: falar do Amor de Deus para as pessoas. Não me importava com a distância. Eu aparelhava um cavalo num sábado, e saía logo cedo, e ia de colônia em colônia nas fazendas da região pregando o Evangelho.
Quando eu chegava, dava um tempo pra o pessoal chamar os parentes e amigos, vinham todos pra uma área - os velhos, as senhoras, as crianças - ali fazia uma oração, eu mesmo cantava um hino, e começava a falar.
Você se lembra da família Lopes? Pois é. Todos os irmãos começaram sua caminhada cristã assim. Eu fazia cultos na casa deles na fazenda. O pai deles não gostava de mim. Chegou me jurar de morte com um facão. Mas quando ele sabia que eu ia pra determinado lugar e me espreitava, eu ia pra outro. E assim continuava pregando na roça.
Houve um dia que tive que atravessar um rio, pra pregar num lugar com hora marcada. Havia um canoeiro me esperando à beira, dentro só cabia eu e ele, aquele negócio balançava o tempo todo, e você sabe que não sei nadar - mas lá ia eu!".

Já ouvi várias histórias dele. Filho de mineiro. Contador de história e estórias. Conversa simples e pausada. Sempre esboçando um sorriso. Vez ou outra escapa um verso bíblico na fala. Sem ser "evangeliquês".
Quando chegou o tempo casou-se, e começou seu trabalho de faxineiro no Banco Itaú. Mas não deixou de "falar do Amor de Deus" - (frase que ele usa para se referir ao seu ministério).
Quando eu era criança, íamos a uma igreja sem muita expressão durante a semana. Mas eu sabia que ele ia pregar. Subia no púlpito de cabeça erguida, corpo franzino mas com seu vozerão, geralmente abria a Bíblia num texto conhecido de todos, curto, e começava a contar uma experiência no trabalho bancário com analogias a um princípio bíblico.
No último culto de ceia na Igreja do Nazareno Central de Campinas, quando eu estava ajudando à mesa diante de 3 mil pessoas, vi um rosto conhecido, na multidão, ele apontava para mim e falava com a esposa. Li seus lábios: "É ele, o filho do pastor David!".
Meu pai era chamado de "pastor", mas nunca houve uma cerimônia de ordenação segundo os ditames das igrejas. Mas eu sei quem ele é:
  • Ele é aquele que ás 3 da manhã, numa madrugada de quarta-feira, quando eu tinha uns 8 anos, falava ao telefone: "Fique calma minha irmã, ela não vai se matar, minha esposa e eu já chegaremos aí para orar com vocês!". Voltou pra casa depois de algumas horas, com o paletó rasgado e o relógio de pulso arrebentado porque orou por uma pessoa possessa. "Mais tem Deus para dar do que o diabo pra tirar" - disse com serenidade quando eu soube do ocorrido.
  • Ele é aquele que levava o pão e o vinho para enfermos no hospital, sem que soubessem...
  • Ele é aquele que disse "Não, estou fora!", pra um trabalho sujo, e depois estourou um escândalo com vários "falsos-pastores", de Campinas e os "anões do Congresso Nacional".
  • Ele é aquele que quando soube da enfermidade de um parente distante, que nem conhecia, viajou umas 7 horas, e o trouxe pra casa, deu moradia, ajudou no tratamento de saúde, e empregou. Por consequência deste ato, via aquele velho primo de minha mãe assentado por horas lendo os Evangelhos e chorando de alegria!
  • Ele é aquele, que quando me ajoelho à beira da cama, me lembro de quando ia à porta do quarto dos meus pais, e o via ali, em silêncio com Deus.
Quando me perguntam sobre inspiração e influência para o que escrevo, prego, faço, etc - minha resposta é: Minha família!
Nenhum homem atravessou a influência que tive dos meus pais. Nenhum doutor, construtor de grandes prédios, oradores de massas, superam o exemplo que vi em minha casa.
Meu pai vive em Barão Geraldo, cuidando do seu jardim, limpando a piscina (que ele chama de caldeirão), e descansando dos mais de 30 anos no Banco.
Recebe a família e os amigos pra um assado e conversas engraçadas.
Mais engraçado, é que dia dos pais quem ganha presente são os filhos!
David "Junior"



9.8.08

.::A Sant(identidade) que precisamos::.


www.google.com.br em 09.08.08
Tenho o privilégio de viver numa geração de diversas tribos. As noites de sexta-feira no Shopping Parque Dom Pedro I, de Campinas, é o ponto de encontro de pelo menos dez tipos de adolescentes: metaleiros, grunge, emocore, skatistas, os mauricinhos e patricinhas, a turma do hip-hop, e outras que podem até surgir numa única noite. Se alguém estiver à procura de uma identidade, e assentar-se num banco do shopping, pode ter à sua frente um desfile para todos os gostos.

Creio que cada vez mais temos um grande número de pessoas à procura de uma identidade. Não apenas dizer "Este sou eu", diante de um espelho, mas poder dizer "Este sou eu, vocês concordam?".
Sinto que sou parte da geração dos que mudam de identidade rapidamente porque nem sempre a resposta de todos é: "Está ótimo você ser assim!". Constantemente as pessoas mudam, tais mudanças são decorrentes de uma constante procura por uma identidade aceitável, que satisfaça a vida e aos outros.

Eu já tive minha crise de identidade. Nem sempre tive aprovação sobre minhas músicas, roupas, hábitos culturais, comida, comportamento, etc. E me pus a pensar: "Estou vivendo certo?!". Invariavelmente, todos uma hora pensam no que deve ser "a vida ideal". Qual o jeito ideal a ser vivido.

Dentro eu tinha uma grande preocupação sobre minha espiritualidade. Minha crise não era somente para ser aceito pelas pessoas, mas ter a todo instante, a certeza da aceitação de Deus por minha vida. Os amigos nos aceitam em instantes, mas eles não nos acompanham quando estamos no silêncio e a consciência começa a dialogar conosco. Alguém pode "se amarrar" nas nossas conversas, nos achar humorados e ter vontade de ficar por perto, porém, nós mesmos podemos nutrir dia após dia vontade de se distanciar do "self". Não se querer.

Por isto é importante parar pra ler, pensar, musicar com a alma, sobre o que é "santidade".

No Antigo Testamento, santidade aparecia associada às palavras "kodesh" (separação) e "shekinah" (Glória, presença de Deus). Ambas nos demonstram que santidade não é coisa humana, mas sim divina. Ninguém torna-se santo sem ter um relacionamento pessoal com Deus. Mesmo que haja orações, jejuns, instantes de êxtases, se isto tudo for manifestação de um consciência em crise, não quer dizer que há uma identidade com Deus!

No Novo Testamento, santidade é apresentada pelo grego "Teleios" (finalidade e maturidade).

Durante o período em que a Igreja Romana detinha a leitura das Escrituras, a palavra em latim "Perfectio", fez com que o ensino de santidade tomasse o rumo do perfeccionismo. Grandes problemas surgem quando o homem assume para si a responsabilidade única de se mater em pé. Ainda hoje podemos notar isto em várias extremidades religiosas, sob aparência de cristianismo, que quanto mais abstinência, mutilação, flagelo de alma, etc - mais santo a pessoa se torna.

Qual é a importância de conversar sobre santidade e as tribos de hoje em dia?
Não somente as tribos mas várias outras manifestações nos mostram o quanto o homem precisa se encontrar, e ser encontrado. Não existe outra forma dele ser achado, se não for pelos olhos de Deus, que nos vê como somos, e nos aceita como estamos. Não existe outra maneira de alguém se aceitar sem que haja uma consciência de uma aceitação maior, a despeito do que se fez na vida.

Não existe uma única pessoa que abra os braços e diga: "Tudo quanto você é, para mim está ótimo!". Se você ouvir isto, aguarde. Esta fala tem vida curta. Não nasce da sinceridade.
Também você não pode cair na presunção que se aceita totalmente, não se arrepende de nada de sua vida, e que garante o seu próprio futuro. Por isto precisamos de santidade.

Santidade é um viver

Santidade é dizer sim para Jesus em tudo o que Ele disse

Santidade é continuar um relacionamento simples e sincero com Deus

Santidade começa quando você se vê como "pescador e pecador" (Lc 5:1-11), e clama por reconhecer que Jesus é Deus!

Santidade é você se questionar se de fato ama Jesus e pratica suas palavras.

Santidade é você jogar fora toda sua lista de "Não Pode!", e dedicar-se ao amor. Sabendo que "Deus é amor" (1 Jo 4:8), e além dele o que se diz de amor é temporal.

Santidade é você se imaginar um galho e Deus o tronco.

Quando você concebe que Deus é quem sabe tudo sobre você, e não é por qualquer motivo que seu nome é Todo-Poderoso, só lhe resta empreender a vida num grande relacionamento com este Deus.

Alguém seria insano de, sabendo do teto de vidro de sua vida, procurar se esconder do Deus que vê tudo e, só deseja o nosso bem?

A maior falha da nossa geração no que diz respeito a santidade, é de não se permitir em conhecer a Deus, mesmo sabendo que Ele é todo amor, paz, e contentamento - deseja criar "religião", espiritualidade de hipocrisia, sendo que a coisa é muito simples:

"Deus, tem misericórdia de mim pois sou pecador, não consigo me manter. O mundo muda, me perco dentro de mim mesmo, preciso ser achado por você e me alimentar da vida que há em Ti!".

Não busque ser santo porque Zeus, o deus do trovão, está prestes a puní-lo.
Busque ser santo, por que Jesus Cristo através da santidade se manteve e se satisfez!
Ele criou a vida, e a vida não se achará madura, completa, com finalidade enquanto não se identificar com o que Santo!

"O Deus da paz, voz santifique em tudo, vosso espírito, alma e corpo, sejam conservados íntegros e irrepreensíveis para a vinda de nosso Senhor. Fiel é o que voz chama, o qual também o fará". (1 Te 5:23-24)

Nele,

David

7.8.08

SANTIDADE




A maioria sabe o significado da palavra "santo": separado.

Também, a maioria dos sermões fazem menção aos originais hebraico e grego para convencer os ouvintes.

Para mim a definição mais simples e tangível é: "Dizer sim a Jesus Cristo".

De nada adiantam os êxtases espirituais, choros compulsivos, músicas comoventes, abstinência de bebidas, comidas, roupas e músicas, jejuns, se no íntimo o ser não responde ao convite de Jesus para viver com Ele.

Santidade é darmos razão para Deus. Ao invés de resumirmos ao que não pode, submetemos a vida ao tudo que há em Jesus: amor, perdão, mansidão, silêncio, paz, alegria, etc. Sabendo que sempre seremos tentados, e vez ou outra até pecar, embora saibamos que o mandamento é de não vivermos no pecado.

A minha preocupação não é outra senão esta, "Aquietar-me, reconhecer quem é Deus, ouví-lo, e obedecer".

Por isto, já não me preocupo com o que posso e não posso. Apenas sigo Jesus!

4.8.08

"É tudo ouro!"...e daí?


Hoje terminei de ler o livro do Êxodo. Chegando nos capítulos finais a atenção deve ser equilibrada pelas listas de feitorias que o povo hebreu cumpriu no deserto. No meio do livro temos Deus ordenando ao povo "Façam isto!", ao final do livro temos Moisés relatando, detalhadamente, "Fizemos!", de acordo com o que Deus pediu.

Quando os hebreus saíram do Egito houve uma reação abortiva dos egípcios: "Tomem nosso ouro, prata, bronze. Leve até nossas roupas. Mas nos deixe!". Depois de viverem sob pragas e perderem seus primogênitos eles "pagaram" para o povo sair rápido.

Logo depois do mar sucumbir todo exército do faraó, o povo irrompeu numa grande festa, com danças, músicas que emergiam de uma alma em gozo por saber que não seriam mais escravos. Por quanto tempo conta-se uma vantagem dessas? Acho que em toda refeição a conversa era: "Mas e aquela hora, você viu?".

Ao caminhar por três dias, sedentos, chegaram a um lugar onde "as águas eram amargas", por isto chamaram ao lugar de Mara. A conversa mudou: "Por que saímos? Por que festejamos a morte do opressor se agora morreremos de sede?".

Um grande milagre tem sua serventia no momento. A lembrança do milagre no decorrer dos dias pode tornar-se lenda pelo coração "viciados em milagres".

A ironia é que ao final do livro do Êxodo, todo o povo está ofertando de bom coração ouro, prata, bronze, linho, tudo em excesso para a construção do Tabernáculo. Moisés teve que dizer: "Chega de ofertas! Vocês doaram demais. Não sabemos o que fazer com tanto ouro!".

Os tesouros que o povo ganhou ao sair do Egito, tornaram-se ofertas para fazer os elementos do Tabernáculo.

Num deserto, de que vale ter riquezas? Que vantagem existe em pendurar um colar egípcio e desfilar contra uma tempestade de areia?

A grande lição que o povo aprendeu é que o despojo egípcio servia para fundição, revestir os móveis do Tabernáculo pois eles precisavam durar para a posteridade. Porque o corpo não precisa de atavios, logo ele volta ao pó. Osso e ouro não combinam. Por isto os ladrões escavam. Já o deserto e a vida tem tudo a ver. Nele, quando peregrinamos, concluímos: "Mas por que tenho que ficar carregando isto?".

Nele, nosso maior tesouro!
David